Eu tive que aceitar

Eu tive que aceitar que eu viera ao mundo para fazer algo por ele, para tentar dar-lhe o melhor de mim, deixar rastros positivos da minha passagem e, em dado momento, partir.
Eu tive que aceitar que meus pais não durariam para sempre e que meus filhos, pouco a pouco, escolheriam seus caminhos e prosseguiriam sua caminhada sem mim.
Eu tive que aceitar que eles não eram meus como eu supunha, e que a liberdade de ir e vir era um direito deles também.
Eu tive que aceitar que todos os meus bens me foram confiados por empréstimo, que não me pertenciam e que eram tão fugazes como fugaz era a minha própria existência na Terra.
Eu tive que aceitar que eu iria e que os bens ficariam para uso de outras pessoas quando eu já não estivesse por aqui.
Eu tive que aceitar que varrer minha calçada todos os dias não me dava nenhuma garantia de que ela era propriedade minha, e que varrê-la com tanta constância era apenas um fútil alimento que eu dava à minha ilusão de posse.
Eu tive que aceitar que o que eu chamava de “minha casa” era só um teto temporário que dia mais, dia menos, seria o abrigo terreno de uma outra família.
Eu tive que aceitar que o meu apego às coisas só apressaria ainda mais a minha despedida e a minha partida.
Eu tive que aceitar que meus animais de estimação, minhas plantas, a árvore que eu plantara, minhas flores e minhas aves eram mortais. Eles não me pertenciam!
Foi difícil, mas eu tive que aceitar.

Eu tive que aceitar as minhas fragilidades, os meus limites, a minha condição de ser mortal, de ser atingível, de ser perecível.
Eu tive que aceitar para não perecer!

Eu tive que aceitar que a Vida sempre continuaria com
ou sem mim, e que o mundo em pouco tempo me esqueceria.

Eu me rendi e aceitei que eu tinha que aceitar.
Aceitei para deixar de sofrer, para lançar fora o meu orgulho, a minha prepotência, e para voltar à simplicidade da Natureza, que trata a todos da mesma maneira e sem favoritismos.

Humildemente agora lhe confesso que foi preciso
eu fazer cessar uma guerra dentro de mim.

Eu tive que me desarmar e abrir meus braços para
receber e aceitar a minha tão sonhada Paz


Silvia Schmidt

Fama Fraternitatis - 1614





"Nascidos de Deus: Ex Deo nascimur;
Mortos em Jesus: in Jesu morimur;
Renascidos pelo Espírito Santo: per Spiritum Sanctum reviviscimus"
Fama Fraternitatis - 1614

 
Quando nós, buscadores espirituais, morremos segundo a natureza, em um último suspiro, na solidão do eu que se retira, a alma entra em contato com o Espírito e renasce em Cristo.

Aí está o segredo!



Conhecemos o símbolo de Aquário: o homem que carrega um cântaro de água que os discípulos encontram na porta, segundo as indicações de Cristo.

"Segui o Aguadeiro", diz ele, "até a casa em que ele entrar."

Segui o caminho traçado pela Água Viva no mundo que corre para a perdição e encontrareis preparada a ceia do Senhor.

Todos os que seguem o Aguadeiro serão chamados para cumprir a "Via Dolorosa".

E aqueles que reconhecerem nele o guia, o fermento que os destruirá para o bem, haverão de tornar-se os discípulos do Senhor.

Se somos seres espirituais, unimos coração e cabeça.

A Água da Vida escorre de nosso coração para o fogo sagrado de nosso pensamento, e então já somos novos homens, que revelam as descobertas realmente novas, descobertas extraordinárias e maravilhosos segredos.

Se somos homens comuns, estas duas correntes nos arrastam para a decadência e para descobertas que, consideradas negativamente, estilhaçam e destroem.

É este tipo de reação negativa que nasce nas máquinas de guerra que derramam sobre a humanidade seu fogo devorador.

Sintonizados com a tríplice possibilidade da Unidade divina, os seres humanos estão sendo orientados a ultrapassar os limites de sua consciência e à expansão de seus horizontes espirituais.

Este é um momento particularmente indicado para a expansão do misticismo, fato que já está manifestando-se com interesse cada vez maior pelos segredos da Idade Média e das populações mais próximas da natureza.

Aquário traz algo completamente diferente, seja para o bem, seja para o mal.

É um tríplice fermento para nosso cosmo e trabalha sobre a humanidade em geral e a impulsiona para seu destino.

O resultado final demonstrará se a matéria será capaz de suportar a ação deste fermento.

O espírito banal que deseja exploraro além por curiosidade doentia e primitiva pode manifestar-se e falar de maneira muito interessante sobre coisas que ele absolutamente não compreende!

Ele se sente tomado pela influência de Aquário e acha que se tornou um homem espiritualizado. Que ilusão!

Querendo ou não, ele é empurrado para o caminho das experiências interiores.

Será que nós seríamos capazes de nos adaptar ao altruísmo do qual, sem passar pela "morte em Jesus", "in Jesu morimur", e para ressuscitar, em seguida, no Espírito Santo.

E, para ele, surge um novo mundo!

O cristianismo da Gnosis é uma força divina: não é um dogma.

É por isso que a Rosacruz atual, imitando seu predecessor, Christian Rosenkreuz, diz: "Jesu mihi omnia", Jesus é tudo para mim!

Todos os que pensam que podem sair-se bem sem Cristo como força e verdadeiro  salvador, e que portanto não se anulam nele, serão estilhaçados por Aquário e se perderão no declínio do materialismo natural.

É compreensível que o homem natural, morrendo de medo e tremendo, procure escapar à força revolucionária e radical de Cristo.

Somente os heróis e heroínas que possuem coragem suficiente e compreensão para anular sua natureza poderão viver o verdadeiro cristianismo.

Então o cristianismo mostrará seu verdadeiro rosto.

Seu véu exterior será levantado e veremos se a Gnosis aí está presente, o Conhecimento de Deus que guia o homem para a verdade da tríplice fórmula mágica:

Ex Deo nascimur, in Jesu morimur, per Spiritus Sanctum reviviscimus.

Nós nascemos de Deus - pela vontade.
Nós morremos em Jesus- pela sabedoria.
Nós renascemos do Espírito Santo- pela ação.


Aí está a tríplice tarefa do cristão gnóstico.

E todo aquele que passa por esta tríplice experiência, renasce e se torna um sábio e diz: Jesus é tudo para mim!"


Diálogo entre Luz e Matéria


Diálogo entre Luz e Matéria


Luz: — Tens sob o domínio de tuas aparências multiformes, os seres humanos que me pertencem.

Matéria: — Tu te enganas. Eu não retenho nada. São eles que se agarram a mim fortemente. Eles me desejam e se apegam muito a mim. É que, como tu vês, eles amam mais a mim que a ti.

Luz: Tu te enganas, sombra. Nas diversas formas que tomas, é a mim que eles buscam e desejam. E porque tu os cegas e os obscureces, eles não percebem sua essência. Sua essência é luz, assim como a minha é luz.

Matéria: — Se fosse como dizes, por que, então, se agarrariam eles tanto a mim, vivendo de mim e através de mim? Por que teriam eles criado o seu próprio mundo? Sim, eles são seres criadores. Não foi sempre essa a tua vontade?

Luz: — Eu queria que eles espalhassem minha luz. Porém, eles criaram a aparência, a escuridão, na qual se perdem e permanecem cativos. E tu és essa escuridão!

Matéria: — Tu me chamas, pois, "escuridão"?

Luz: — Sim. Tuas formas são, de fato, ilusórias. Tu mesma és engano. Não deixas entrar a luz; estás fora da verdade e, por conseguinte, és irreal.

Matéria: — Eu me sinto, contudo, muito real. O fato de estarmos conversando já mostra isso.

Luz: — Tuas inúmeras aparências mantêm o mundo. Porém ele é um mundo de sombras. Tu apenas existes graças à "ausência de luz".

Matéria: — Então, concede-me aquilo a que aspiro. Deixa que eu seja luz!

Luz: — Tu eras o Universo. Foi justamente esse pensamento, matéria, que causou teu vir-a-ser, teu surgimento.

Matéria: — Por que, então, me privas de tua luz? Não sabes, apesar de tudo, que este é meu maior desejo?

Luz: — Naturalmente.

Matéria: — Por que não realizas, então, o meu desejo? Quero ser como tu; luz!

Luz: — Nas trevas, a chama de uma vela é bastante útil. Então, por que querer ser a chama de uma vela entre os raios do sol? Quem a acenderá? Sonhas muito alto, compreendes?

Matéria: — Mas eu quero fazer parte do sol!

Luz: — O sol já existe. Por que não aceitas simplesmente as possibilidades que se encontram a teu alcance? O que queres, pois, conseguir? Torna-te parte do todo, então permanecerás na luz e estarás ligada a tudo. Abandona tua vontade própria!

Matéria: — Mas eu sou vontade própria. Não me disseste isso tantas vezes? Pode a vontade própria entregar a própria vontade?

Luz: — Existe um caminho, e tu o conhece. Já falamos dele muitas vezes.

Matéria: — Pode haver outro caminho.

Luz: — Tu o buscas há milhões de anos.

Matéria: — Eu o encontrarei.

Luz: — Ele não existe. Sabes muito bem que existe apenas um caminho. Crê em mim. Entrega-te a mim. Renuncia à aparência e à forma. Então te encontrarás na luz. Porém, nunca algo pode ser a luz.

Matéria: — Mas tu mesma és a luz!

Luz: — Sou tudo em todos e não sou. Quando já "não" fores, então tudo serás.

Matéria: — Mas como se pode "não" ser?

Luz: — Eu já te disse. Nada forces. Renuncia a ti mesma e confia-te a mim. Somente então poderei contribuir para a tua libertação.

Matéria: — Mas, se eu fizer isso, eu não existirei mais e me tornarei nada!

Luz: — Escuta. A gota de água que cai no oceano deixa de ser uma gota. Ela se torna muito mais que uma gota! Chamar isso de morte não é um engano? Se levares em conta que a gota se torna infinita, que ela é envolvida pelo oceano… Ela somente perde sua condição de gota. E ao mar, à união de todas as gotas, à plenitude, tu chamarias "nada"?

Matéria: — Tenho medo.

Luz: — De quê?

Matéria: — De não ser, de nada ser.

Luz: — Mas se te confias a mim, se te fundes em mim, então tu te tornas "tudo".

Matéria: — Bem. Admitamos que seja assim como dizes. Se assim fosse, entretanto, eu não poderia desaparecer simplesmente, mesmo que quisesse. São as formas das quais sou composta que me fazem desaparecer. Não fales, então contra elas e nem contra mim!

Luz: — Quando falo contigo, eu me dirijo também a elas, pois as criaturas e tu são um só.

Matéria: — Antes, tu disseste que elas são tuas. E agora garantes que são minhas. Tu te contradizes!

Luz: — O fruto provém da semente.

Matéria: — Está correto. Então achas que a semente provém de ti, que a casca provém de mim e com ela eu posso ficar, não é?

Luz: — Eu amo o fruto inteiro; não apenas a semente ou a casca. Embora

a polpa seja corruptível, ainda assim eu não separo a semente e o fruto.

Matéria: — Queres, então, me privarde tudo? Queres para ti o fruto inteiro e a mim também? Confessa.

Luz: — Sim, eu envolvo todas as partes do fruto. Mas não para destruí-las.Não esqueças que minha semente é amor. Os frutos, entretanto, se transformam. Eles se transformam nos frutos da árvore da vida que está no centro. É lá que eu espero que venhas. Então, seremos unas.

Matéria: Vou refletir sobre isso.

Luz: Eu sei. Vou esperar.

A Vida Serena


Siga placidamente por entre o ruído e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio.

Tanto quanto possível, sem sacrificar seus princípios, conviva bem com todas as pessoas.
Diga sua verdade serena e claramente e ouça os outros, mesmo os estúpidos e ignorantes, pois eles também têm sua história.
Evite as pessoas vulgares e agressivas, elas atentam contra o espírito.
Se você se comparar com os outros, pode se tornar vaidoso ou amargo, porque sempre existirão pessoas piores ou melhores que você.
Usufrua suas conquistas, assim como seus planos.


Tenha cautela em seus negócios, pois o mundo está cheio de traições.
Mas não deixe isso cegá-lo para a virtude que existe, muitos lutam por ideais nobres e por toda parte a vida está cheia de heroísmo.
Seja você mesmo. Sobretudo, não finja afeições. Não seja cínico sobre o amor, porque, apesar de toda aridez e desencanto, ele é tao perene quanto a relva.
Aceite com brandura a lição dos anos, abrindo mão de bom grado as coisas da juventude.
Alimente a força do espírito para ter proteção em um súbito infortúnio.
Mas não se torture com fantasias. Muitos medos nascem da solidão e do cansaço.
Adote uma disciplina sadia, mas não seja exigente demais. Seja gentil com você mesmo.
Você é filho do universo, assim como as arvores e as estrelas: você tem o direito de estar aqui.
E mesmo que não lhe pareça claro, o universo, com certeza, está evoluindo como deveria.
Portanto, esteja em paz com Deus, não importa como você O conceba.
E, quaisquer que sejam suas lutas e aspirações no ruidoso mundo da vida, mantenha a paz em sua alma.
Apesar de todas as falsidade, maldades e sonhos desfeitos, este ainda é um belo mundo.
Alegre-se. Lute pela sua felicidade.

O Caminho do Meio



Hoje coloco uma citação de Lou Marinoff no Livro "O caminho do meio" .
Ele fala do embate entre as civilizações e como soluciona-los com ABC (Aristóteles, Buda e Confúcio). Vamos a ele:

Foto de Lou Marinoff

Como vimos, a civilização  Islâmica (como as religiões adâmicas da qual surge) adota "um Deus, um Profeta, um livro". A civilização Indiana politeísta assimila "todos os Deuses, todos os profetas e todos os livros". A civilização Ocidental oferece a seus cidadãos a a escolha entre "qualquer Deus, qualquer profeta, qualquer livro". 

A civilização oriental, não obstante seus convertidos ao cristianismo e ao islamismo, e seus adoradores de Buda como um Deus é exemplificada pelo Tao e pelo confucionismo ateísta, que lhe conferem a ética secular, mas aderem ao "nenhum Deus, nenhum profeta e nenhum livro". As pessoas observam rituais e praticam as virtudes confucianas, mas não veneram Confúcio, que ficaria horrorizado se fosse endeusado.


Hermes Trismegisto, Criação, Vida, Unidade.

Hermes Trismegisto, Criação, Vida, Unidade.


 
"Busca, ó alma, adquirir o conhecimento absoluto das coisas aprendendoa conhecer sua forma e sua essência. Mas deixa de lado suas qualidades e sua quantidade, pois a Vida verdadeira, assim como sua essência, é una e eterna, e não há nada que se interponha entre ela e a alma."

Por que o mundo é assim?

Por que os homens fazem assim?
Ou, mais diretamente, por que sou assim?
Por que faço o que faço?
Por que existe sofrimento?
Por que existe injustiça?
O que é o amor?
Onde está a harmonia?

Todas estas perguntas, certamente, não são novas. O homem, olhando as estrelas, sempre procurou compreender o como e o porquê da criação.

Mas, nos dias de hoje, quem chega ao final do processo de individualização, já não se satisfaz com fórmulas prontas e, como já as conhece, sente uma surda inquietação.

Buda disse: 

 "Mesmo que o mundo fosse tão belo como cantam os poetas ou como o pintam os artistas, aqui não encontraríamos a paz".

A resposta para estas indagações não é difícil e nem complicada.

Não se trata de usar a inteligência, como geralmente pensamos, enganosamente.

As funções intelectuais sempre estão relacionadas com o tempo e o espaço.

Depois da morte do corpo, o que resta são os pensamentos e sua expressão, em formas que não permanecem.

E, se não prestamos nenhuma atenção a eles, eles desaparecem.

Há pensamentos que podem durar mais, mas não são eternos.

As idéias, as reflexões, os gostos, as tendências, os sentimentos, as preferências, acabam-se apagando na poeira dos séculos.

E isto é muito bom, pois muitas especulações, talvez muito interessantes em um dado momento, nada servirão para a eternidade.

Muito acima das atividades mentais, está a fonte da vida.

A vida penetra e engloba toda a criação, mas sem receber dela nenhuma influência.

Da fonte, jorra a força que conduz a criação para seu objetivo.

Esta força não se reduz a uma soma de preceitos: ela não permite o sucesso na vida pessoal; ela não é tangível, nem pode ser captada.

Podemos apenas recebê-la e ela nos permite participar da verdadeira vida.

Ela alimenta a alma, desde que a alma deseje ser alimentada por ela.

É a fonte silenciosa, intangível, na qual a alma pode matar sua sede para encontrar a fé e o consolo, e avançar no caminho até o bom fim.

A primeira condição é que a alma queira matar sua sede na fonte de vida original.

Depois de ter perdido o rumo, ela deve optar pela volta.

É por esta razão que dizemos que o mundo material não passa de uma morada provisória para a alma.

Isto quer dizer que a alma está de passagem, que ela deve ir além, sem "dormir sobre os louros".

"Na planície do desespero, jazem os ossos dos inúmeros que se sentaram para descansar. E, enquanto estavam sentados, morreram."

O homem é empurrado para a frente e sacudido, até conseguir adiantar-se, rumo a sua meta, que é a unidade tríplice: do Espírito divino, da Alma imortal e do Homem transfigurado.

Buda mostrou a angústia da alma aprisionada, comparando o mundo em que ela vive a uma casa prestes a pegar fogo: é preciso abandonar a casa.

Quem aspira a libertar sua alma é um passageiro neste mundo.

Está aqui, trabalha aqui, faz o melhor de si, mas continua neutro em relação a tudo o que se passa dentro dele e a sua volta.

Sua meta final não está incluída nos limites do espaço e do tempo.

Ele se comporta com inteligência e sabedoria.

Sua conduta testemunha sua paz interior, sua compreensão e sua fé verdadeira.

E, quando ele encontra alguém que está angustiado, o ajuda como o bom samaritano e não como o fariseu.

Como a paz na terra é efêmera, ele não fica procurando aqui embaixo uma sociedade ideal dotada de uma estrutura em perfeito funcionamento.

Certamente, ele consagra o melhor de suas forças a elevar o mais alto possível o nível da sociedade, mas este não é seu objetivo principal.
 
Quem vê a solução neste modo de considerar a vida, não deve hesitar em se submeter, a si mesmo e ao mundo, a um exame aprofundado.

Hermes Trismegisto diz:

"Busca, ó alma, adquirir o conhecimento absoluto das coisas aprendendo a conhecer sua forma e sua essência. Mas deixa de lado suas qualidades e sua quantidade".

No mundo da multiplicidade, este é um trabalho sem fim: estudar as propriedades dos inúmeros seres e fenômenos.

Cada resposta suscita uma nova série de perguntas; e também não devemos buscar a paz interior na multiplicidade das coisas, pois a "paz é leve como o vento".

Uma paz interior durável nasce justamente quando a alma se eleva para além da multiplicidade, para celebrar a unidade com a Fonte.


Gnosis


GNOSIS

 
Toda a vez que lemos algo a respeito da Gnosis um conceito cujo significado literal é conhecimento ou quando ouvimos falar alguma coisa a respeito dela, geralmente associamos esse conceito àquele de "conhecimento oculto" e designamos pela palavra gnóstico tudo aquilo que é misterioso e por conseguinte oculto ao ser natural grosseiro.

Originalmente a Gnosis era, porém, a síntese da sabedoria primordial, a soma de todo o conhecimento, que dirigia a atenção diretamente para a vida primordial divina, uma verdadeira onda de vida humana divina não terrestre.



Os hierofantes da Gnosis eram e ainda são, os enviados do reino imutável, trazendo para a humanidade perdida a sabedoria divina e indicando a senda única para aqueles que, na qualidade de filhos perdidos, estão desejosos de retornar à patria original.

Essa Gnosis, tal como foi trazida pelos hierofantes-mensageiros, jamais foi escrita.

Ela foi transmitida oralmente, de instrutor a aluno.

Entretanto, nada deve fazer supor que essa transmissão verbal da Gnosis tenha sido, sem mais nada, completa. Havia um contato com o grupo e com o próprio candidato.

Em ambos os contatos era minuciosamente levada em conta a condição espiritual do interessado. Da Gnosis somente era revelado aquilo que era considerado útil
e necessário ao candidato.

Assim, pode-se afirmar com absoluta certeza que nas regiões dialéticas não existe pessoa alguma em quem a Gnosis se tenha revelado em sua totalidade.

Aquele que afirma conhecê-la, não a conhece; e aquele que a conhece, não fala.

Esta é uma lei dos mistérios universais, rigorosamente observada desde que
surgiu a ordem de natureza dialética.

Em consequência do seu egocentrismo e da sua consciência apartada do Espírito, o homem dialético tem a tendência caracterlstica de utilizar aquilo que
pode agarrar e assimilar, em qualquer nível que seja, para o fortalecimento do seu próprio estado.

Conseqüentemente, revelar a Gnosis a tais entidades não contribuiria para a sua salvação, mas sim para a sua definitiva perdição.

Por isso, a Gnosis jamais é revelada em sua plenitude, jamais é transmitida verbalmente em sua integridade, pois são inúmeros aqueles que muito depressa e facilmente assimilam-na mentalmente e, em consequência, ocasionam danos não só a si mesmos, como também a outrem.

Assim, podemos compreender que a revelação da Gnosis é um processo que se desenvolve na mesma medida em que o buscador avança na senda.

A lei dialética "primeiro saber para depois agir" só pode ser aplicada aqui de maneira muito limitada. Para estar em condições de possuir a Gnosis, para poder aproximar-se da noiva celeste, o buscador deve primeiramente agir.

Este agir torna-se então, a cada passo, um ato responsável e inteligente.

Este ato inteligente é observado cuidadosamente.

Os hierofantes jamais poderão ser enganados.

Uma ação pseudo-inteligente é pura especulação, na qual o eu, escondido num
canto, está à espreita; uma ação pseudo-inteligente não passa de uma 'pose, algo teatral, e tal ação é sempre desmascarada.

Como pode um homem, que se extenua na escuridão e na noite, agir inteligentemente e abrir assim o caminho para a Gnosis?

E para auxiliá-lo nesse sentido que os hierofantes têm vindo a nós.

Embora a Gnosis não seja revelada, no entanto fala-se e escrevese a respeito dela.

"Deus amou de tal forma o mundo, que enviou seu Filho unigênito a fim de que aqueles que nele cressem não perecessem, mas alcançassem a vida eterna."

Esse Filho da Luz está presente e trata-se agora de saber se percebeis algo a respeito d'Ele. Perceber algo d'Ele quer dizer: ser tocado por Ele. Ser tocado por Ele significa ter a possibilidade para uma ação inteligente. Isso é crer! Crer jamais significa aderir a um sistema.

A Gnosis vem até vós de acordo com a pureza da vossa intenção de ouvir e da ação espontânea que daí possa resultar.

Da parte da Tradição não é desperdiçada a minima parcela de energia.

Supondo que ouvis um instrutor desconhecido dizer: "O caminho que conduz à Luz é um caminho de saúde, de liberdade e de alegria". Admitamos que esta frase seja pronunciada no templo da

Rosacruz. Então, um diamante encontra-se oculto nessas palavras. E será observado muito atentamente se percebeis a irradiação dessa jóia e qual o efeito que essa radiação produz em vós.

Por exemplo:

Podeis estar doentes e, neste caso, um caminho que leve à saúde vos interessará muito. Podeis, sejam quais forem as circunstâncias, sentir-vos privados de liberdade, então um caminho que conduza à liberdade exercerá em vós grande estímulo. Se suportais grandes sofrimentos e dificuldades, evidentemente sentireis interesse por uma alegria verdadeira e eterna. Nessas condições, podeis perceber esse diamante oculto e sentir o seu brilho? Não é verdade que a vossa reação, então, é antes de tudo uma reação dialética? Sois atraídos por aquilo que estais famintos e por aquilo que vos falta.

Quem dentre vós sente falta da Luz?

Quem dentre vós anseia pela Luz universal, como uma pobre e mendicante alma, que se consome em desejo, mortalmente abandonada?

Quem ama com cada fibra de seu ser a fonte original da Luz? Quem ainda possui aquela aspiração primordial pela unidade com Deus?

Quem sente interiormente como o salmista:
"Como a Força suspira pelas correntes de água, assim minha alma suspira por Ti, ó Deus! Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivente. Quando irei e estarei diante da face de Deus?"

Quem possui essa sede básica de Deus, se ainda carecemos de saúde, liberdade e alegria? Portanto, é justamente isso que a Gnosis requer.

É nessa sede pela Luz que está escondido o cintilante diamante. É com essa exigência fundamental que começa a Gnosis, que começa o Sermão do Monte:

"Bem-aventurados os pobres de espírito", o que quer dizer: bem-aventurados aqueles que aspiram ao Espírito, isto é, à Luz. Aquele que se abrir inteiramente a esse anseio, a esse amor, e nesse amor se perder por inteiro, encontrando nele toda a sua riqueza, tudo o mais lhe será concedido.

Quando o Espírito Santo vem a Maria, aquela cuja alma se voltou em direção à Luz,
para oferecer-lhe a síntese que traz a salvação, isto significa: "Maria conservou todas essas coisas em seu coração". "Conservar algo no coração" refere-se a um estado de amor perfeito para com Deus; é possuir a jóia cintilante como uma radiação do coração, uma radiação que parte para tudo e para todos.

A mulher que de maneira impessoal consegue emitir do santuário do coração uma tal força de radiação de uma Mãe de Deus; ela é uma Maria, uma Ísis, pois é possuidora da Luz que traz a salvação, e no tempo oportuno irradiará essa Luz para o mundo e para a humanidade; ela levará a Gnosis a qualquer um que aspire a essa Luz, E quando o velho Simeão percebe essa Luz do coração no templo do mais profundo do seu ser, ele exclama: "Em verdade, este foi posto para uma
queda e ressurreição de muitos".

O homem que de maneira impessoal pode fazer jorrar do santuário do coração uma tal força de radiação é José, o carpinteiro; ele é o maçom que impulsiona, chama e desperta. Ele é o destruidor do inferno, aquele que não força a si mesmo, nem a outrem, no sofrimento chamejante, mas em perfeito equilíbrio maneja os seus instrumentos para abrir à Gnosis, isto é, à eternidade, a sua entrada no tempo.

Ele não se envergonha de tomar Maria como esposa, como companheira no tempo e na eternidade, pois o que nela foi gerado não é da vontade do homem, mas sim do Esplrito Santo. O egoísmo e a vontade própria desaparecem aqui no nada, e é o amor de Deus, que ultrapassa toda a razão, que forma José e cobre Maria com sua sombra.

Pode o homem dialético, desse modo, conservar ainda alguma coisa em seu coração?

O que ele possui no coração não é em grande parte misticismo, sentimentalismo
e emoção?

Os hierofantes da Gnosis prestam atenção a isso e por esse motivo que nós vo-lo relatamos. Podeis, pois, saber como eles operam.

Eles falam sobre a sabedoria universal, mas não a trazem como presente numa salva. Eles introduzem em suas palavras diversos estímulos ocultos de reações ou experimentam 'impelir-vos pela ação a uma reação.

Cuidam minuciosamente como se apresenta e de que natureza é essa reação. E à medida em que a alma, isto é, a consciência, renuncia a si mesma e rende-se ao eterno, a Gnosis revela-se. Esse é o caminho que a Tradição, como serva da Gnosis, segue convosco.

Por esse motivo, é impossivel que a Gnosis possa ser revelada e oferecida, em sua totalidade, como um sistema.

Mas pode-se, assim como já o dissemos, falar e escrever sobre a Gnosis, e indicar o caminho que a ela conduz.

Tudo aquilo que os hierofantes fazem com essa finalidade é mais que suficiente para conduzir o candidato a uma ação inteligente e fundamental.

Cremos ainda ser necessário esclarecer um possível mal entendido. Numerosos são aquelesque supõem que a Escritura Sagrada seja a linguagem da Gnosis, a Gnosis revelada.

Nada é menos verdadeirol A Biblia também fala da Gnosis e a respeito dela, indicando a direcão para Deus.

Tomemos por exemplo a palavra "Jesus". Se analisarmos cabalisticamente essa palavra, obteremos "portador da salvação" ou "libertador". Para um homem totalmente enclausurado, o nome, assim como o seu significado, sua profundeza interior, não têm o mínimo sentido, mas para aquele que está aberto à Gnosis, a palavra e sua forma sonora não contêm nenhum segredo que deva ser desvendado.

Quem chegou a essa abertura, sabe-o. E quem não chegou, não tem necessidade de sabê-lo. Ele não saberia o que fazer com esse saber, senão usá-lo para vangloriar-se egocentricamente.

Mas não existem tantas coisas ocultas na Bíblia?

Certamente, porém, ninguém poderá empregá-las, se elas ainda não se revelaram no mais íntimo de seu ser.

Muitas partes da Bíblia são anotações de conversas entre instrutores e alunos. Se vos tornardes verdadeiros alunos segundo a exigência da lei, então também não tereis nenhuma inclinação para furtar cabalisticamente mistérios secretos.

Também poderíamos perguntar: "Em suma, a Bíblia tem algum sentido?"

A Bíblia tem sentido unicamente quando desempenha sua tarefa e determinacão.

Os autores da Bíblia foram incumbidos de sacudir o homem dialético e encaminhá-lo para a Gnosis que, sem dispêndio de palavras, acomete este homem dialético em sua realidade nua.

Quando isso acontece, assim como é dito no Sermão do Monte e também por Paulo, ninguém sentirá necessidade de uma análise cabalística.

Quando Jesus, o Senhor, fala de túmulos caiados de branco por fora, mas dentro cheios de podridão e veneno, então até o maior tolo compreenderá tão bem essa expressão, que melhor não seria possível.

O que não for destinado, permanecerá oculto para vós; não o compreendeis e também não o necessitais.

Preocupai-vos, pois, em não furtar mentalmente o que está oculto ou parodiá-lo misticamente, nem procurar retê-lo ocultisticamente. Uma tal Gnosis não vos é destinada, e se apesar de tudo a compreenderdes, ela se vos tornará como um fardo de chumbo e um alimento indigesto.

A Gnosis vem a cada um numa linguagem que lhe é compreenslvel. Ela indica a cada um a senda e cada um pode aproximar-se dela mediante uma ação sincera, honesta, reverente, inteligente e sagrada.


Sobre o Presente e o futuro

Sobre o Presente e o futuro




"Que cada qual examine os seus pensamentos, e os achará sempre ocupados com o passado e com o futuro. 
Quase não pensamos no presente; e, quando pensamos é apenas para tomar-lhe a luz a fim de iluminar o futuro. O presente não é nunca o nosso fim; o passado e o presente são os nossos meios; só o futuro é o nosso fim. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver, e, dispondo-nos sempre a ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos."
Blaise Pascal

"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido...." 
Confúcio

"Quem não compreender como o corpo veio a existir, há de perecer com ele. Quem não compreender como veio, não há de compreender como irá..."
Mestre Jesus, o Cristo.
Diálogo do Salvador

Desequilíbrios da vida mística


1. Amar os outros, mas não a si mesmo.

2. Não reconhecer o ego como a fonte de todos os problemas (ou não perceber que você é a causa de
tudo.)


3. Tentar escapar da Terra, em vez de criar o Céu na Terra (ou considerar a Terra um lugar terrível.)

4. Enxergar as aparências, em vez da verdadeira realidade que está por trás de todas as aparências.

5. Tentar tornar-se Deus, em vez de perceber que você já é o Eu Eterno, como todas as outras pessoas o são.

6. Pensar que existe algo que se possa chamar de raiva justificada. A raiva é uma armadilha perigosa.

7. Tornar-se um extremista, e não ser moderado em todas as coisas.

8. Tornar-se sisudo demais, deixando de ter alegria, felicidade e diversão suficientes na vida.

9. Ser crítico demais e duro demais com você mesmo.

10. Ler demais e não meditar o bastante.

11. Deixar que a sexualidade o domine, em vez de dominá-la.

12. Pensar que o seu caminho espiritual é o melhor (ou tornar-se um fanático por suas crenças.)

13. Apegar-se demais às coisas.

14. Viver preocupado demais consigo e não se dedicar o suficiente a servir os outros.

15. Desistir em meio a grandes adversidades. Essa é uma das piores armadilhas. Você jamais deve desistir!

16. Achar que o sofrimento que o está incomodando - seja em que nível for - não irá passar.

17. Pensar que precisa de um sacerdote, de um guru... que aja como intermediário entre você e Deus.

18. Priorizar seus relacionamentos em detrimento das relações com você mesmo e com Deus.

19. Envolver-se demais no amor a uma só pessoa, em vez de expandir seu amor para englobar muitas pessoas.

20. Dar importância indevida à busca da paixão ou da alma gêmea, e não perceber que o Eu interior é aquele que, na verdade, você está procurando prioritariamente.

21. Pensar que precisa sofrer na vida.

22. Precisar controlar os outros.

23. Precisar de simpatia, amor ou aprovação.

24. Ser hipersensível ou, no outro lado da moeda, duro demais.

25. Comparar-se com outras pessoas.

26. Pensar que ser pobre é ser espiritualizado.

27. Assumir o papel de vítima diante de outras pessoas.

28. Pensar que o valor reside em alcançar coisas.

29. Tentar fazer tudo sozinho e não pedir a ajuda de Deus; ou, no outro lado da moeda, pedir a ajuda de Deus e não se ajudar a si mesmo.

30. Amar um pouco menos as pessoas porque elas o estão tratando mal ou dando um exemplo negativo de egoísmo.

Joshua David Stone 

Alexander Pope

Tudo que chamas natureza, é arte que desconheces;
Tudo que chamas acaso é direcionamento que não podes ver;
Tudo que chamas discordância é harmonia que não podes entender;
Tudo que chamas mal e parcial é bem universal.
"Alexander Pope
O Ensaio 1734

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