5 "Rituais" espirituais para ano novo

 5 "Rituais" espirituais para ano novo


Traduzido de Arcádia Publishing


Ao nos despedirmos do ano antigo e nos prepararmos para receber tudo o que o novo ano traz em nosso caminho, faz sentido querer marcar a transição de alguma forma. Alguns de nós fazem isso dando uma festa ou fazendo uma lista de resoluções de ano novo para o ano que está por vir. No entanto, é importante entender que essas não são as únicas maneiras de começar o Ano Novo com estilo.

Um ritual pessoal, em particular, é uma ótima maneira de você fazer a transição simbolicamente por uma série de razões. Os rituais ajudam a dar um ar de importância a um evento. Eles podem nos ajudar a lembrar que fazemos parte de uma imagem maior. Eles também são maneiras maravilhosas de se conectar em um nível mais profundo com as pessoas mais próximas de nós, incluindo nós mesmos. Considere adicionar uma das seguintes ideias aos seus próprios planos para o início do próximo ano.


Faça uma reavaliação pessoal do ano passado.


Muitas pessoas tendem a se concentrar apenas no que está por vir quando chega o dia de ano novo. No entanto, outros acham tão importante e terapêutico rever o ano que acabou de terminar. Dito isso, agende um intervalo de tempo antes do dia de Ano Novo, quando você pode sentar-se sozinho e avaliar espiritualmente o ano que passou.

O que você conquistou no ano passado? Reserve um momento para homenagear cada conquista, bem como examine qualquer desvio de seus planos originais. O que você fez no ano passado que nunca tinha feito antes? Que coisas novas você aprendeu e quais desafios enfrentou? Termine escrevendo uma lista ou uma entrada de diário detalhando os dez principais destaques do ano como um todo.


Separe um dia para organizar sua vida.



Você sabia que, na Itália, as pessoas jogam coisas pela janela na véspera de Ano Novo? É porque elas sentem que é tão importante se livrar de coisas velhas que não os servem mais como é abraçar coisas
novas.

Claro, ninguém está sugerindo que você jogue sua bagunça pela janela na rua. No entanto, talvez você queira reservar um dia para se livrar de algumas coisas de que não precisa mais. Vá até sua casa e reúna roupas, livros ou outros itens dos quais você possa se separar e dê a eles uma nova vida doando-os a uma instituição de caridade local ou alguém que vá usá-los.


Convide formalmente a prosperidade para sua vida.

Muitas culturas em todo o mundo celebram o Dia de Ano Novo com rituais destinados a afastar a má sorte e atrair a boa fortuna. Alguns começam o ano novo jogando dinheiro, fisicamente, pela porta da frente na primeira vez que entram em casa após o início do ano. Aqui está uma sugestão com um toque moderno nessa tradição.

Reúna sua família e abençoe algumas moedas ou notas de papel. A oração formal é uma ótima maneira de fazer isso, mas, se você não é religioso, declarar suas esperanças para o ano que está por vir também funciona bem. O que fazer com esse dinheiro depois disso depende de você. Você pode ficar com ele separado, mas pode ser ainda melhor doá-lo para instituições de caridade como uma maneira maravilhosa de "pagá-lo" espiritualmente.


Passe a véspera de Ano Novo em meditação.


Está planejando uma véspera de Ano Novo tranquila em casa, para variar? Passe-o em meditação tranquila ou oração, como forma de começar o ano em paz e harmonia. Certifique-se de organizar o tempo de meditação para se estender além da meia-noite. É a maneira perfeita não apenas de começar um novo ano, mas também de terminar um antigo.

Você também pode fazer isso com outras pessoas, se preferir. Convide amigos e façam isso juntos. Como alternativa, você pode entrar em contato com um grupo local, centro de ioga ou organização espiritual e fazer os preparativos.


Dê ênfase especial aos primeiros doze dias.


Para muitas pessoas, os primeiros doze dias de um novo ano representam cada um dos doze meses que

virão. (O primeiro dia representa janeiro, o segundo fevereiro e assim por diante.) Aproveite essa ideia, passando esses doze dias focado no que você mais deseja que seu ano seja.

Interessado em ser mais caridoso este ano? Passe um dos dias como voluntário em uma cozinha comunitária local. Quer se tornar mais sensível a questões que afetam outras raças ou imigrantes? Dedique um ou dois desses dias à leitura de um livro de história regional sobre imigrantes ou outros grupos étnicos em sua área. Vale tudo, então fique à vontade para ser criativo!



Tradução Paulo Maurício Magalhães

Um Natal Esotérico (Parte 2)

 Um Natal Esotérico (Parte 2)


Traduzido de Universal Freemasonry


Hoje, às vésperas deste grande feriado de Natal, celebramos o início de nossa era atual da história, o início de um novo ano, o retorno da luz solar e o nascimento da figura mais influente da história moderna, Jesus de Nazaré. Na Parte 1 de "Um Natal Esotérico", examinamos as raízes e as origens arquetípicas da história do Natal, bem como outras várias tradições pré-natalinas no paganismo e na mitologia antiga. Vimos que o Natal em sua totalidade é uma colcha de retalhos de ideias e celebrações antigas e míticas.

A dissolução de nossas crenças e suposições sobre o Natal pode ser desconcertante para alguns, mas, como a lagarta que precisa se modificar dentro de seu casulo para se tornar uma borboleta, essa alteração é um componente necessário da iniciação em novos conhecimentos, para deixar para trás idéias imprecisas. Então, agora, enquanto nossa concepção de Natal está igualmente em seu estado líquido, vamos ver quais asas coloridas nosso querido feriado ainda pode ter e para quais doces flores de vida espiritual elas podem nos levar.


O nascer do Sol da Meia-Noite


No primeiro capítulo de João, o mais místico capítulo do mais místico evangelho, é dito que aquela Palavra (Verbo) que se tornou Jesus de Nazaré é também aquela Palavra de Deus que brilhou nas trevas no alvorecer da Criação e fez todas as coisas, e que é também a Luz e a Vida da humanidade. No grego original, essa palavra é na verdade Logos, um conceito emprestado dos filósofos estóicos e neoplatônicos gregos, que descreve a força criativa que dá ordem ao caos escuro do universo. Então, esta Luz do Logos brilhou na escuridão, e a escuridão não sabia disso; foi a Luz da humanidade e se fez carne para que a humanidade a conhecesse melhor.

Se houvesse um único motivo que pudesse ser atribuído ao tema estético e mítico do Natal, seria o da luz brilhando na escuridão. Do menino Jesus iluminado no centro de nossos presépios, às luzes de Natal com as quais decoramos nossas árvores e casas, à luz da lareira em que as meias são penduradas, o Natal é arquetipicamente uma luz na escuridão, um calor no frio, mesmo ordem no caos. É a salvação pela Luz Divina, na hora mais escura.

O nascimento dos Deuses Solares em toda a mitologia antiga, muitos dos quais compartilham elementos comuns com a história de Jesus e seu nascimento, eram frequentemente celebrados na época do Solstício de Inverno porque este é o ponto em que o sol começa em seu retorno lento após atingir o ponto mais escuro, culminando na primavera e no verão. O meio do inverno, portanto, marca o nascimento de um novo ciclo solar, que sempre governou as atividades da humanidade e, em grande parte, ainda o faz. É o ponto em que o Sol de Deus “morre” e renasce, o que em Roma era conhecido como “Nascimento do Sol Invicto”.

Embora alguns possam zombar da antiga adoração do sol, como o doador de luz e vida, que melhor símbolo para Deus ou o Divino poderia haver do que aquele sem o qual tudo o que sabemos pereceria? Muito parecido com o Logos de João 1, a Luz do sol brilha na matéria e transforma a escuridão da lama e das pedras na bela complexidade da Vida. Uma vez que a maioria das pessoas precisa da incompreensibilidade de Deus para ser representada por alguma figura tangível, tanto o sol quanto seus representantes idealizados em suas várias formas antropomorfizadas, Pai e Sol, podem servir para incorporar e informar a humanidade sobre a natureza da Luz espiritual que dá a verdadeira Vida.


Assim como acima, como embaixo, como dentro

Em "The Mystical Interpretation of Christmas", o Rosacruz Max Heindel descreve uma época em que as energias físicas e espirituais recebidas do sol são invertidas, desta forma o momento de maior energia física acarreta a energia espiritual mais fraca, e vice-versa. Curiosamente, isso também corresponde aos momentos em que a luz do sol atinge a Terra em um ângulo mais reto, durante o Solstício de verão, representativo do quadrado (simbólico) da existência física, em oposição a quando atinge a Terra em um ângulo mais agudo no Solstício de Inverno, correspondendo aproximadamente ao triângulo, representando a existência espiritual.

Isso também significa que este Solstício de Inverno, dia de máximo espiritual, é o dia em que o mínimo físico gira e começa a crescer em direção à robustez física do verão e, portanto, representa o início da descida do espírito à matéria. Esta descida, muitas vezes descrita como uma "queda", é fundamentalmente um ato de doação, sacrifício, serviço e criação, pois a descida da Luz para as trevas é aquela pela qual todas as novas formas são criadas, mantidas e a graça pela qual elas podem um dia ascender e evoluir para um estado superior. Sem o derramamento altruísta da luz do sol nas trevas da Terra propiciando nascimento divino da colheita e da criatura, como poderiamos existir?

É assim que no momento em que a luz física está mais fraca, a Luz espiritual do Amor e da generosidade atinge seu auge. Ao longo da história, com o início da escuridão do inverno, a necessidade de dar e compartilhar também atingiu o seu ápice, e se não fosse pela lembrança do Amor e da generosidade dessas celebrações de inverno, quantos poderiam ter morrido no frio intenso do inverno e na frígido egoísmo mesmo de seus vizinhos? Aqui, também encontramos a importância de dar, sendo tanto um símbolo do dom fundamental da Luz e da Vida de Deus e do sol, quanto um aspecto prático de nossa sobrevivência e prosperidade como um povo. Somos lembrados de nos tornarmos semelhantes ao sol em nossa generosidade quando o próprio sol está menos presente.

Por mais pervertido e comercializado que possa ser agora, nossa habilidade em nossos momentos mais sombrios de permitir que o sol interior de nosso Amor brilhe e cuidemos uns dos outros é a origem de nossas tradições de dar presentes de Natal, e o tema dominante de muitas histórias de Natal, da disposição de um avarento rico em doar aos necessitados em Um Conto de Natal, à disposição de uma comunidade pobre em sustentar uma família necessitada, em  "It’s a Wonderful Life". Até mesmo a história original de Natal de uma família de refugiados desesperados, com a mãe grávida, encontrando abrigo na generosidade de outras pessoas ressoa com este tema. Todos esses são reflexos externos de nossa Luz brilhando na escuridão da ignorância, medo, ódio e ganância.


Amor na Manjedoura Cósmica

Assim como o menino Cristo na história de Jesus, o Cristo que é a luz interior de todas as pessoas, de cada átomo, e que brilha em nosso sol interior e em cada estrela do firmamento, é um dom divino nascido da graça, cujo destino está escrito no tecido da própria Criação. Nas profundezas das trevas, nascido em um estábulo galáctico e uma manjedoura planetária feita de água, poeira e gases, a luz física do sol brilha, e a luz divina da consciência emerge milagrosamente e ascende em todas as formas em direção à sua fonte da vida. Como escreveu o místico sufi Ibn Arabi: “Deus dorme na rocha, sonha na planta, mexe no animal e desperta no homem”.

O segredo desse Sol de Deus na humanidade está escondido nos personagens do Natal. A virgem mãe Maria é a pureza do coração aberto, sem ser molestado pelos desejos mesquinhos da natureza humana inferior, recebendo aquele que nunca nasceu e nunca morre. O pai José é o servo de força e vontade, que zela pela encarnação divina, em obediência ao decreto celestial. Os sábios e pastores atraídos pela estrela são os aspectos superiores e inferiores da mente, chamados pela misteriosa intuição celestial de suas atividades mundanas típicas. O estábulo, a manjedoura e os animais ao redor são o vago e humilde vaso terrestre em que a Luz Crística nasce, ou desce, em cada um de nós, o corpo físico.

Todos esses aspectos do eu são reunidos como uma mandala em torno da figura central, que é colocada em uma manjedoura que, pela lógica normal, deveria ser simplesmente comida para os animais, mas foi substituída por esta Luz divina e a salvação da escuridão terrível do emaranhamento no mundo da matéria. É assim que esta Luz toma o lugar do mero “pão” material que alimenta apenas nossos corpos e seus desejos. Assim é que corpo, coração, força de vontade e mente se curvam e giram como satélites ao redor da Luz radiante que transcende e ilumina todos esses aspectos menores do Ser. Esta Luz não emerge deles, assim como o menino Jesus não é uma criança concebida naturalmente; não é uma soma de suas partes, mas sim uma graça descendo a eles, dando-lhes significado e propósito além de suas formas transitórias e existência inferior, que de outra forma são apenas redemoinhos de escuridão.

O Sol em cada um

As experiências de quase morte descrevem quase universalmente o encontro com uma Luz que sabem ser Deus, cuja refulgência brilhante é a essência do Amor Incondicional, do Conhecimento, da Vida e da Consciência. Da mesma forma, os místicos de todo o mundo experimentam Deus como uma Luz infinita que é transcendente e imanente em toda a Criação. Esta luz amorosa também é entendida como o que experimentamos em nossos corações como amor e em nossas mentes como consciência, embora em formas limitadas. Ele brilha mais intensamente em nós no Amor incondicional, quando livre das restrições do desejo e do condicionamento que o ocultam na lama de nossas naturezas inferiores.

É esta Luz do Amor que brilha da manjedoura e chega a nós apropriadamente na forma da história de um bebê, uma nova e pura forma de Vida. São vários tons desta Luz que conhecemos ao longo da vida, primeiro em nossa pureza como bebês, depois na união amorosa que traz nova vida ao mundo, e mais uma vez quando olhamos para nossos filhos recém-nascidos, refletindo nossa própria essência pura de volta para nós. Esta criança do sol interior que vislumbramos de muitas maneiras é o nosso núcleo, acima e além de todos os aspectos da mente e do corpo, é nossa Alma, nossa própria consciência, tanto a Luz da consciência quanto a fonte do Amor que brilha quando nos rendemos ao Divino.

Quando alcançamos a pureza e a rendição de Maria, a força e devoção de José, e a orientação de todos os aspectos da mente, de pastores a sábios, em direção a esta estrela da intuição, então o brilho do invencível sol interior nos ilumina com um alegria inesgotável, amor, sabedoria, criatividade e paz, irradiando-se sobre todos os aspectos de nossos relacionamentos, pensamentos e ações no mundo. Este é o ponto culminante da jornada espiritual, e o próprio mundo se torna iluminado quando carregamos esta Luz, liberando todas as impurezas que a obstruem dentro de nós.


A Luz Crescente

Enquanto nossa conclusão individual ainda está por vir, no Natal, nossas histórias e canções, decorações e celebrações, a hora da estação e a posição dos próprios corpos celestes se reúnem para nos lembrar daquela infinita Luz de Amor que mora dentro de nós, que vislumbramos em nossos momentos mais brilhantes, e que aguarda nossa purificação devotada para brilhar da manjedoura de nossos corações, tornando-nos uma encarnação totalmente divina do Logos da Luz Amorosa.

Essa iluminação é um processo gradual, e o contar de nossas histórias, canções e símbolos de Natal sussuram em nosso interior a cada solstício de inverno e renovam a cálida lareira do Amor dentro de nós. Isso nos ajuda a marchar adiante na escuridão, de mãos dadas e Iluminados por dentro, para enfrentar uma nova rodada cíclica de nossa jornada em espiral para cima em direção à conclusão final, enquanto isso,  quem sabe trazermos Luz a este mundo de todas as maneiras (mesmo que) imperfeitas que possamos.

Saiba neste Natal que a Luz da Consciência Crística não é uma coisa longínqua ou antiga, nem se limita a nenhuma seita, templo ou livro sagrado, mas vive em cada olhar que você encontra, em cada palavra de amor, em cada ato de dando, e em seu próprio coração, se você liberar a confusão terrível que o esconde, e reconhecer que é o âmago do seu ser, meramente escondido na escuridão, esperando para ser revelado. Um Natal muito alegre, caloroso e brilhante para você!



Autor: Johnatan Dinsmore

Tradução: Paulo Maurício M. Magalhães

Um Natal Esotérico (Parte 1)

 UM NATAL MUITO ESOTÉRICO 
A hora mais escura é exatamente antes do amanhecer



Traduzido de: Universal Freemasonry


Conforme o Natal se aproxima rapidamente, partes do mundo com raízes cristãs estão ficando encantadas com várias tradições centradas na história do humilde nascimento de Cristo, bem como tradições seculares e não cristãs relacionadas  ao Solstício de Inverno. Qualquer que seja a fé ou a falta dela, é difícil ignorar esta época festiva do ano e a história dominante da maior religião do mundo, tecida em canções de natal e  repleta de ornamentos e decorações .

Sim, luzes cintilantes, decoração resplandecente e paisagens nevadas saturam a psique coletiva, em uma celebração que mescla temas de cordialidade, amor, esperança, perdão, destino, generosidade e um acontecimento central com tanto significado que o usamos como ponto de demarcação de todo o nosso calendário.

O Natal não é apenas o fim de cada ano, mas também o aniversário anual do fim do velho mundo Antes de Cristo e o nascimento da nova fase de Anno Domini da história humana. O eixo da história ocidental repousa literalmente neste evento que celebramos todo dia 25 de dezembro.

No entanto, há muito mais nesta história do que as imagens superficiais da festividade de inverno e o filho divino nascido no estábulo, rodeado por homens sábios guiados pelas estrelas e pobres pastores. Na verdade, praticamente todos os aspectos do Natal têm raízes profundas nas tradições que antecederam sua adoção no Cristianismo e em sua história de nascimento; até mesmo aspectos da própria história do Natal podem ser mais míticos do que históricos. Até o Papai Noel, às vezes criticado como uma criação fantasiosa da Coca-Cola, tem suas raízes como Sinterklaas (São Nicolau), que remonta à Idade Média, ou possivelmente até mesmo tradições europeias pré-cristãs.

Então, quais são exatamente as raízes da história do Natal e o que devemos fazer com elas? Eles invalidam nosso feriado amado ou é possível que possam dar-lhe um significado ainda mais profundo?


Um mito recorrente.

Talvez a mais famosa "revelação" na primeira parte do filme Zeitgeist, seja que há muito se sabe entre os estudiosos que elementos da história da vida de Cristo contados na Bíblia existem em muitas tradições pré-existentes, e isso certamente inclui as circunstâncias de seu nascimento. É virtualmente inegável que aspectos da história do Natal são mitológicos e astrológicos. Os literalistas bíblicos podem argumentar que essas histórias foram criadas por demônios para enganar a humanidade, mas para a maioria das pessoas racionais que não desejam dar esse salto para preservar suas crenças, a compreensão da mitologia do Natal é inevitável.

A história religiosa está repleta de protótipos de Cristo e do Natal. Dos muitos deuses ou semideuses que dizem ter nascido em 25 de dezembro, alguns dos mais famosos são Mitra, Apolo, Hórus, Osíris, Hércules, Dionísio e Adônis. Aqueles cujos nascimentos foram preditos por fenômenos celestiais como estrelas ou cometas incluem Yu, Lao Tse, Buda, Mitra e Osíris. Aqueles que disseram ter nascido por concepção divina, geralmente de uma virgem, incluem o Faraó Amenkept III, o deus do sol Rá, Hórus, Atis, Dionísio, Perseu, Helena de Tróia, Buda, Mitra e até Ghengis Khan. O estudo de Jesus na mitologia comparada é uma área continuamente explorada por historiadores e estudiosos. 

A figura que provavelmente tem mais semelhanças com a história de Jesus é o Senhor Krishna do hinduísmo, que se diz ser: Deus na forma de um homem, a segunda pessoa de uma trindade divina, profetizado por homens sábios e estrelas para nascer por divina concepção por meio de um membro (possivelmente virginal) de uma linhagem real (e a profecia foi cumprida), aquele que realizou milagres, expulsou demônios, foi morto por ser pendurado em uma árvore, morreu e desceu ao Inferno antes de se levantar novamente para visitar os discípulos e ascender ao céu, como testemunhado por muitos seguidores, e também foi referido como um “leão” de sua tribo, além de muitas outras correlações. Sua maior diferença, talvez, é que se acredita que a vida de Krishna ocorreu em algum momento entre 200-3.200 anos antes de Cristo.

No entanto, isso não significa que Cristo nunca nasceu ou nunca existiu. Na verdade, há evidência histórica de que Jesus existiu, e mesmo que não seja forte o suficiente para convencer alguns céticos, “A maioria dos estudiosos e historiadores do Novo Testamento do antigo Oriente Próximo concorda que Jesus existiu como uma figura histórica.” [wikipedia] 

A existência de elementos mitológicos da história de Cristo são muitas vezes usados ​​de forma inadequada como evidência de que ele nunca existiu, enquanto são apenas evidências de que sua história foi mitificada no processo de propagação do Cristianismo na Europa pagã, no máximo.


Yule nem imagina o quanto o Natal é pagão

Embora a história do nascimento de Jesus possa ser rastreada até as mitologias religiosas de várias civilizações antigas, muitas das tradições do Natal têm suas raízes nas celebrações pagãs mais rurais do Solstício de Inverno, particularmente no norte da Europa.

Yule ou Yuletide era a tradição nórdica/germânica de cortar e queimar uma grande tora, conhecida como Log de Yule, enquanto festejava pelo tempo que levava para a tora queimar, o que poderia ser até 12 dias após o Solstício. Muitos acreditam ser esta a origem dos 12 dias do Natal. O relacionado Midwinter (Winter Solstice) também foi considerado uma época, como o Halloween, em que o véu entre o mundo espiritual e o natural era mais fino e, portanto, carregava um significado religioso e sobrenatural.

Acredita-se que as vidas dos antigos pagãos tenham girado principalmente em torno do significado agrícola das mudanças das estações no hemisfério norte e o significado sobrenatural que elas também assumiram, sendo literalmente questões de vida ou morte. O Solstício de Inverno foi uma época em que os preparativos para os próximos “meses de fome” de inverno de janeiro e fevereiro chegaram ao clímax, com o abate de animais que não podiam ser alimentados durante o inverno, bem como o excesso de comida que não podia ser armazenado adequadamente. Por acaso também era a época do ano em que o vinho e a cerveja produzidos com as safras cultivadas durante os meses de verão eram suficientemente fermentados para serem bebidos e apreciados.

Portanto, devido à presença de excesso de comida, carne e libações, as tradições de Natal que provavelmente surgiram em parte do Yule/Solstício de inverno, incluem festejos e canções de Natal, presunto/peru de Natal, presentes e festividade geral ao lado do fogo. Até mesmo o uso de árvores e galhos perenes como decoração, reverenciado por sua capacidade de prosperar e permanecer verde nas profundezas do inverno, é anterior ao advento da árvore de Natal no início da Alemanha medieval, com os pagãos trazendo sempre-vivas para suas casas já por volta de 400 DC. Parece que as tradições de Natal que não vieram das mitologias egípcias, gregas, romanas ou mesmo indianas foram herdadas da Europa pagã pré-cristã.

O equivalente semelhante de Saturnalia existia em Roma, que se espalhou para a maior parte da Europa durante o Império Romano; neste caso, elementos de caos social e alegria também foram adicionados ao banquete geral, lutas de gladiadores, jogos de azar, dar presentes, uma forma inicial de cartões de felicitações e desinibição geral. A Saturnália romana não era diferente de um antigo Mardis Gras com esteróides, com pessoas usando fantasias e invertendo papéis sociais, permitindo que escravos se tornassem senhores e vice-versa, e permitindo que os camponeses governassem as cidades durante a semana. Diz-se que o banquete e a indulgência também incluíram elementos orgíacos, o que significa que a gula pode não ter sido o único vício tolerado.


Feliz amálgama de mitos e tradições mundiais?

Embora essas revelações possam ser preocupantes para alguns, a verdade é que todas essas várias tradições foram incorporadas ao Natal por um ou vários motivos. Todos eles foram tremendamente significativos para as pessoas de quem foram recebidos e, como a própria mitologia, carregam um significado simbólico. Então, talvez, em vez de ficarmos desanimados porque o Natal não é o que pensávamos, deveríamos estar intrigados para descobrir quais significados maiores podem estar ocultos nesta tradição de retalhos.

Na Maçonaria Universal, nós nos esforçamos para buscar a Luz do Conhecimento onde quer que ela nos leve, por mais desconfortável que seja. Então, para onde a iluminação do simbolismo do Natal pode nos levar? Mais sobre isso na Parte 2, em breve...


Autor Johnatan Dinsmore

Tradução: Paulo Maurício M. Magalhães

Os maçons são realmente os Illuminati?

 Os maçons são realmente os Illuminati?
A diferença entre a Maçonaria e os Illuminati (explicado)


Adaptado de Masonic Find


Os maçons foram objeto de muitas teorias da conspiração e são considerados uma das organizações mais secretas do mundo.

Um equívoco comum sobre a Maçonaria é que eles são "os Illuminati", que é outra "sociedade secreta" que estava ativa há alguns séculos na Europa e, da mesma forma, é o assunto de várias teorias da conspiração.

Mas, os maçons são secretamente os Illuminati?

Se não, quais são as diferenças entre a Maçonaria e os Illuminati?

É isso que veremos hoje ...


Uma breve história sobre a Maçonaria

A Maçonaria como organização tem suas origens na Antiguidade, e há evidências confiáveis que sugerem que a Maçonaria existiu na Inglaterra pelo menos desde a idade medieval ou século XIV. Os manuscritos maçônicos são datados de 1390 DC e, como tal, não há dúvida de que esta organização existia no século XIV.

Embora não haja nenhuma maneira possível de sugerir que outras versões da história que colocam as origens da Maçonaria nos tempos bíblicos do Rei Salomão sejam verdadeiras. Vários estudiosos, tanto maçons quanto não maçons, sugeriram que pode haver um pouco de verdade nas lendas que a Maçonaria começou durante a antiguidade, mesmo antes de Cristo. Ainda assim, não há como verificar essas reivindicações no momento e, como tal, não podemos dizer nada com garantia.


Os Illuminati em 1790

Os Illuminati como os conhecemos eram uma sociedade secreta fundada por um professor e pensador alemão em 1776, que foi dissolvida pelas autoridades governamentais após a Revolução Francesa na década de 1790. Desde então, as pessoas especularam que talvez os Illuminati tenham sobrevivido aos expurgos governamentais, mas não houve nenhuma prova verificável da existência dos Illuminati.

Os Illuminati, também conhecidos como Illuminati da Baviera, foram fundados como uma sociedade secreta pelo pensador e professor bávaro Adam Weishaupt em 1º de maio de 1776. Adam Weishaupt foi um dos principais pensadores e literatos de sua época e é considerado um dos principais pensadores de sua época.

Os objetivos iniciais dos Illuminati eram se opor à superstição, ao obscurantismo, à influência religiosa sobre a vida pública e aos abusos do poder estatal. "A ordem do dia," escreveram em seus estatutos gerais, "é colocar fim às maquinações dos perpetradores da injustiça, controlá-los sem dominá-los".

Na verdade, eles eram bastante nobres e estavam em sincronia com os ventos iluministas que sopraram pela Europa no século XVIII. Muitos intelectuais influentes e políticos progressistas se consideraram membros, como Fernando de Brunsvique-Volfembutel e o diplomata Xavier von Zwack, que era o segundo no comando da Ordem.[3] Atraiu literários como Johann Wolfgang von Goethe e Johann Gottfried Herder e duques reinantes de Gotha e Weimar

Em suas próprias palavras, Adam Weishaupt explica as razões por trás da fundação desta nova sociedade secreta. Ele é conhecido por ter dito:



“Numa época, porém, em que havia uma busca insaciável pelas sociedades secretas, planejei fazer uso dessa fraqueza humana para um objetivo real e digno, em benefício das pessoas. Eu queria fazer o que os chefes das autoridades eclesiásticas e seculares deveriam ter feito por seus escritórios.”


Depois que o príncipe Karl Theodor chegou ao poder, a Ordem dos Iluminati, assim como outras sociedades secretas, foi declarada ilegal e dissolvida, em 1785.

Autores como o francês Agustín Barruel (1741-1820), a britânica Nesta Helen Webster (1876-1960) ou o canadense William Guy Carr (1895-1959) vincularam a ordem com eventos como a Revolução Francesa de 1789, as Revoluções em vários países europeus de 1848, a Primeira Guerra Mundial ou a Revolução Bolchevique, de 1917. Há até quem diga que os fundadores dos Estados Unidos eram membros da ordem e que o Federal Reserve, o banco central americano, foi criado para ajudar a cumprir os objetivos de dominação global da organização.

Pouca evidência pode ser encontrada para apoiar a hipótese de que o grupo de Weishaupt tenha sobrevivido até o século XIX. Contudo, diversos grupos têm usado a fama dos Illuminati desde então para criar seus próprios ritos, alegando serem os Illuminati, incluindo a Ordo Illuminatorum, Die Alten Erleuchteten Seher Bayerns, The Illuminati Order, e outros."


Os maçons são realmente os Illuminati?

Muito foi escrito sobre os objetivos iniciais para a fundação dos Illuminati, mas isso está fora do escopo deste artigo. Com uma inspeção mais detalhada, você pode descobrir a razão pela qual o mito de que os maçons são Illuminati pode ter surgido devido aos flertes de Adam Weishaupt com a Maçonaria.

Ele, de fato,  foi iniciado na Loja Maçônica “Theodor zum guten Rath“, em Munique em 1777. Entretanto usou sua filiação maçônica para ganhar novos recrutas para sua própria sociedade secreta, que em muitos aspectos foi modelada na maçonaria muito mais antiga.

Não há evidências que sugiram que os maçons estavam por trás dele na fundação dos Illuminati ou queriam se fundir com esta nova sociedade secreta. Embora seja altamente provável que um bom número de Illuminati eram ex-maçons que podem ter abandonado suas afiliações maçônicas por uma sociedade secreta nova e aparentemente mais promissora. Assim , dito de uma maneira direta, foram os Iluminatti que tentaram recrutar membros entre ex-maçons.

Adam Weishaupt acreditava firmemente no aperfeiçoamento da natureza humana por meio da reeducação. Seu objetivo inicial era atingir a “natureza humana perfeita” por meio da reeducação, permitindo atingir um estado comunal com a natureza, livre de governo e religião organizada.

Esse tipo de afastamento radical da tradição não teria sucesso na Baviera católica, onde o governo já havia banido várias sociedades secretas após o incentivo da Igreja Católica, pois o Papa Clemente XVI já suprimiu a Companhia de Jesus (os jesuítas modernos) em 1773.

A supressão dos jesuítas pelo Papa foi resultado de vários fatores complexos e fortaleceu ainda mais as mãos de governantes poderosos que usaram esta oportunidade para suprimir outras sociedades secretas que eram consideradas uma ameaça à ordem política da época.

Os manuscritos de Adam Weishaupt foram interceptados em 1784, e o governo da Baviera proibiu a ordem. Ele teve que renunciar ao cargo de professor de direito canônico na Universidade de Ingolstadt e teve que deixar a Baviera para um longo exílio. Ele passou o resto de sua vida em Gotha, onde viveu até sua morte em 1830.

Após seu exílio, os Illuminati deixaram de existir em qualquer forma e não houve nenhum vestígio de uma organização com o mesmo nome. Embora, os teóricos da conspiração queiram que você acredite que eles ainda existem.



Adaptado por: Paulo Maurício M. Magalhães

Assim em cima como embaixo; A trajetória da evolução refletida na Maçonaria

 Assim em cima, como embaixo; A trajetória da evolução refletida na Maçonaria


Tradução de Universal Freemasonry


Qual é o propósito da vida, ou talvez além da vida, ou da própria existência? Como responder a essa pergunta dependerá de suas crenças, que vão do niilismo aos conceitos religiosos de salvação e vida após a morte. Na Maçonaria, não impomos ou exigimos qualquer crença particular em relação ao propósito da vida em grande escala, embora nos concentremos fortemente na melhoria de cada indivíduo, o que alguns podem chamar de evolução pessoal. Em última análise, cada maçom tem suas próprias crenças, que vem de uma variedade de origens religiosas.

Qual é a relação deste foco no desenvolvimento pessoal com vários conceitos metafísicos superiores possíveis do propósito da vida, ou a trajetória da alma?


Deus e Telos

É muito interessante como o conceito de um poder superior está conectado ao aprimoramento e à evolução pessoal. Esta é uma das razões para a exigência de uma crença em um poder superior para entrar na Maçonaria, porque o oposto dessa crença, o materialismo, é  intrinsecamente niilista, embora alguns possam debilmente tentar negá-lo. Acreditar em Deus ou no Divino é acreditar em um propósito para a Criação, um conceito conhecido na filosofia e na teologia como teleologia, da palavra grega telos, que significa "razão, propósito ou fim".

Se nós, e o universo do qual emergimos, simplesmente aconteceram e não fomos de alguma forma criados como a ortodoxia materialista moderna insiste, isso significa que nós e o mundo seríamos essencialmente uma confusão acidental e sem sentido de poeira soprada pelo vento cósmico, sem finalidade. Esta é uma visão de mundo particularmente sombria que, apesar de seus muitos problemas filosóficos, ganhou destaque na cultura acadêmica e intelectual do Ocidente. A Maçonaria é diametralmente oposta a esta visão, em que uma das poucas crenças que nosso diverso grupo compartilha é a crença em um poder superior e no Telos que essa crença implica.


As Muitas Faces do Telos

Embora possamos todos compartilhar uma crença em Deus (ou algo parecido) e em Telos, os conceitos individuais e sectários entre vários Irmãos de qual é exatamente o propósito teleológico de nossa existência podem variar amplamente. Isso vai depender de como conceituamos Deus ou o Divino, e o propósito para o qual fomos criados. Algumas das diferenças teleológicas mais comuns são entre as religiões abraâmicas, as do Oriente e tradições espirituais mais baseadas na natureza.

As religiões abraâmicas como o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, por exemplo, tendem a se concentrar em algum fim sublime, geralmente uma vida após a morte, ou uma época no futuro em que os mortos serão ressuscitados e viverão em um paraíso mais terreno. Em ambos os casos, geralmente acredita-se que nosso propósito é servir e adorar a Deus e, eventualmente, desfrutar do estado celestial que os indivíduos conquistaram por terem escolhido viver para seu Criador. Normalmente, eles acreditam que vivemos apenas uma vida e, em seguida, prosseguem para a recompensa ou punição eterna.

As religiões orientais, por outro lado, como o budismo ou o hinduísmo, tendem a acreditar que nossas almas evoluem ao longo de muitas, muitas vidas e eras, talvez até existências em outros mundos ou em outras dimensões. Embora geralmente acreditem em céus ou infernos, todos esses são estados temporários pelos quais uma alma pode passar. O objetivo final é estar completamente livre de nossas ilusões e realizar nossa unidade com Deus, ou a Realidade Suprema.


As religiões da natureza, como o xamanismo, o taoísmo ou o paganismo, são um caso interessante, pois se concentram mais em nossa posição em relação ao mundo natural, geralmente concebido como uma grande entidade viva, e os vários espíritos e ancestrais que habitam o reino não físico. Ainda assim, muitas vezes há uma sensação de Telos, se não em uma trajetória em direção a um fim, pelo menos em direção a alguma ideia de equilíbrio ou harmonia.


Unidade na Diversidade Teleológica

Um dos principais benefícios da Maçonaria é sua adaptabilidade e aplicabilidade à vida, independentemente da fé e do Telos individual que a pessoa adote. As virtudes que são ensinadas na Maçonaria, como disciplina pessoal, honra, fraternidade universal, verdade, igualdade e justiça são qualidades que contribuem para qualquer conceito de Telos com o qual alguém possa se identificar. Quer você acredite que seu destino é o céu, a iluminação, o nirvana ou simplesmente a harmonia cósmica, as qualidades e habilidades que a Maçonaria incentiva são pragmáticas e conduzem a esses fins.

É realmente uma façanha magnífica que nossos irmãos antes de nós alcançaram, combinando os elementos comuns da filosofia moral e os ensinamentos sagrados de tantas tradições, para criar um caminho comum que pudesse abranger todos os crentes e buscadores, para trabalhar juntos na Fraternidade para a melhoria de a raça humana.


autor:  Johnatan Dinsmore

Tradução: Paulo Maurício M. Magalhães


Os Painéis de John Harris: Um legado Maçônico

 Os Painéis de John Harris: 

Um legado Maçônico


Traduzido de Universal Freemasonry


Quando entrei para a Maçonaria, percebi que as cerimônias eram cheias de símbolos que aludiam a significados maiores. Um dos itens que chamaram minha atenção durante minha iniciação foi o quadro ou imagem na sala da Loja que exibe os símbolos do grau. Mais tarde, soube que o artista John Harris (1791-1873) foi o responsável pela criação do projeto que vi em exibição. Minha curiosidade sempre foi elevada para entender melhor John Harris e sua arte simbólica. Embora John Harris tenha sido muito respeitado durante sua vida, logo descobri que nos últimos tempos ele foi rotulado de “um artista esquecido”. Como um defensor das artes, eu imediatamente senti uma ressonância com este maçom trabalhador que aparentemente nunca recebeu o que merecia.

O que podemos aprender com a história de sua vida? Ele é realmente um artista esquecido?

Harris ingressou na Maçonaria em 1818, durante uma época de empolgantes desenvolvimentos culturais. Como parte da nova organização da Grande Loja Unida da Inglaterra (U.G.L.E.) em 1813, os maçons britânicos estavam se afastando da cultura de taberna. Os Maçons, agora proprietários de belos edifícios maciços, podiam adorná-los permanentemente com móveis, com arte antiga ou órgãos de tubos elaborados.

Parte da padronização que ocorria na mobília dos novos edifícios era que cada uma das Lojas deveria possuir um conjunto de placas de decalque (ou quadro de loja). Ao entrar na Loja, Harris rapidamente ficou fascinado com o conceito dos quadros de loja e começou a desenhar projetos quase imediatamente. Seus talentos como pintor, copista e desenhista arquitetônico o ajustaram perfeitamente à tarefa.


Em 1823, Harris dedicou um conjunto à Augustus Frederick, Duque de Sussex, o primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Unida da Inglaterra. O Grão-Mestre imediatamente reconheceu Harris como um jovem muito talentoso. Presume-se que ele encomendou a Harris um modelo oficial padrão para cada diploma.

Esses desenvolvimentos ajudaram a padronizar os projetos. Até aquele ponto, não havia consistência na forma como as placas eram pintadas. Não era incomum que Lojas individuais tivessem uma variedade de símbolos e designs e empregassem seus próprios artistas.


Por que os símbolos do quadro da loja são importantes para o maçom?


Albert Mackey, em seu livro sobre o Simbolismo da Maçonaria, sugere que os símbolos ilustrados para cada grau são a chave de seu mistério. Ele escreve:


Estudar o simbolismo da Maçonaria é a única maneira de investigar sua filosofia.


No ensino maçônico, os símbolos são uma forma de investigar os significados mais profundos porque eles falam a todo o ser humano, não apenas à limitada inteligência consciente. Diz-se que um símbolo comunicará sua “mensagem” mesmo que a mente consciente permaneça inconsciente do fato. O poder do símbolo não depende de ser compreendido.

Harris passou toda a sua vida pintando e estudando os símbolos da Arte. À medida que ele avançava em sua carreira maçônica, seus projetos evoluíam de acordo. Sua vida era sua arte.

Estudar os conselhos de Harris realmente me fez pensar sobre a questão:


Você pode separar o artista da arte?

Alguns dizem que a arte e a biografia de um artista não são tão facilmente separadas. O que achei impressionante nas pranchas Harris é o quanto sua arte refletia sua vida. Os primeiros designs que criou em 1820, apenas dois anos depois de ser iniciado, eram muito simples. Eu imagino que ele ainda estava desvendando todos os ensinamentos profundos da Maçonaria.

Os designs de 1825 transmitem uma experiência mais profunda. Sua vida naquela época refletia verdadeiramente um artesão frutífero. Ele estava forjando seus laços fraternos com o Grão-Mestre, um relacionamento que parecia florescer e amadurecer com o tempo. O Grão-Mestre adorava os “Painéis Harris” e cada Loja queria um conjunto de designs “aprovados”. Harris mal conseguia dar conta dos pedidos das lojas e também se mantinha muito ocupado como copista no Museu Britânico. Sua lista de clientes consistia em alguns dos maiores colecionadores de livros raros da Inglaterra, muitos frequentemente da realeza.

Um anúncio de 1846 elogia a habilidade de Harris:

A arte dos quadros de loja têm prestado um serviço essencial na promoção da instrução entre a Sociedade em geral; eles são avidamente procurados em todos os lugares onde a Maçonaria é valorizada.



Demandas implacáveis e trabalho extenuante se seguiram nas duas décadas seguintes.

Naquela época, não havia fotocopiadoras, então cada uma das pranchas de cada uma das lojas tinha que ser pintada à mão. Não era incomum uma loja esperar mais de um ano depois de pedir um conjunto de Harris.

A última placa que ele projetou foi em 1850 para o terceiro grau, conhecido como design de “sepultura aberta”. Este foi um período de sua vida em que ele se viu reduzido ao mais baixo estado de pobreza e angústia devido à cegueira parcial. Em 1856, ele ficou completamente cego e ficou paralítico devido a um derrame no mesmo ano. A escuridão da pintura de 1850 dá uma sensação de rigidez emocional não experimentada em nenhum de seus projetos anteriores. Embora aparentemente sombrio, a pura intensidade da pintura sugere algo excepcional.

Um de seus amigos comenta:

Aos sessenta e seis anos, ele foi privado dos únicos meios que possuía para sustentar a si mesmo e a uma esposa inválida.

Em 1860, Harris mudou-se com sua esposa para uma casa maçônica em East Croyton para maçons idosos e suas viúvas. Em tempos anteriores, era denominado "O Asilo para Maçons Dignos, Idosos e Decadentes", mas é conhecido hoje como "A Instituição Real Maçônica Benevolente (R.M.B.I.)." Harris encontrou uma saída para sua arte na casa de East Croyton e usou seus anos restantes lá para escrever poesia e arrecadar dinheiro para o R.M.B.I. Ele atendeu à sua convocação para a Grande Loja Eterna em 28 de dezembro de 1873.

De minha pesquisa, acredito que Harris, no sentido mais verdadeiro, incorporou os ensinamentos da Maçonaria. Sua força o sustentou a suportar, apesar das circunstâncias opressivas de infortúnio imprevisto. Ele perseverou até o fim, trabalhando incessantemente nas tarefas que o Mestre havia confiado aos seus cuidados. Na minha opinião, ele está longe de ser um “artista esquecido”. Sua luz continua a brilhar em um dos móveis mais preciosos de todos os chalés.

Nas palavras de Beethoven:

A arte exige de nós que não fiquemos parados.

Observação: as imagens dos quadros de loja de Harris foram recuperadas no site do Harmonie Lodge No. 66.


Artigo de: Pamela Macdown

Tradução: Paulo Maurício M. Magalhães

Porque os maçons não leem?

 Porque os maçons não leem?


Traduzido de : The Square Magazine


O título deste artigo é, sem dúvida, uma contradição, porque, neste exato momento, você, muito provavelmente um maçom, está lendo isso. Mas não pare de ler este artigo, ou ler em geral, porque a arte liberal da gramática - ler, escrever e a compreensão e comunicação de conteúdo - pode torná-lo mais inteligente, mais feliz e mais saudável!

Alguns anos atrás, eu estava conversando com outro maçom e lamentei o fato de estar trabalhando para uma conhecida editora maçônica e as vendas em geral não eram o que esperávamos. Ele apenas deu de ombros e disse: ‘Os maçons não lêem’.

Eu falei que isso era um pouco de generalização demais, mas por mais que odeie admitir, ele pode estar certo ... em alguns aspectos. Provavelmente, não são apenas os maçons que não lêem; a alfabetização e a arte da leitura imersa estão diminuindo em geral.

De acordo com o National Literacy Trust: [Estatísticas de 2012, https://literacytrust.org.uk/parents-and-families/adult-literacy/]

16,4% dos adultos na Inglaterra, ou 7,1 milhões de pessoas, podem ser descritos como tendo "habilidades de alfabetização muito fracas".

Eles podem entender textos curtos e diretos sobre tópicos familiares de forma precisa e independente e obter informações de fontes cotidianas, mas ler informações de fontes desconhecidas ou sobre tópicos desconhecidos pode causar problemas. Isso também é conhecido como analfabeto funcional.

Nos EUA, as estatísticas são ainda mais alarmantes:

Existem seis níveis de proficiência para alfabetização (do Nível 1 ao Nível 5).

A porcentagem de adultos nos EUA com desempenho nos níveis mais baixos de alfabetização (ou seja, Nível 1 ou abaixo) em 2017 foi de 19 por cento. A porcentagem de desempenho nos níveis mais altos de alfabetização (ou seja, Nível 3 ou superior) em 2017 foi de 48 por cento. 

[Estatísticas de 2017, National Center for Education Statistics]

Então, o que está errado, ou será que sempre foi assim? Ler por prazer ou para fins educacionais / de referência é uma arte em extinção?

Mais de 13 anos atrás, Caleb Crain escreveu um artigo para o New Yorker ('Crepúsculo dos livros: como será a vida se as pessoas pararem de ler?' New Yorker, 2007) que explorou o declínio da leitura e da alfabetização nos Estados Unidos. Ele disse que:

Os americanos estão perdendo não apenas a vontade de ler, mas até mesmo a habilidade.

De acordo com o Departamento de Educação, entre 1992 e 2003 a habilidade média de um adulto em ler prosa caiu um ponto em uma escala de quinhentos pontos, e a proporção de proficientes - capazes de tarefas como "comparar pontos de vista em dois editoriais" - diminuiu de quinze  para treze por cento.

Um ponto fascinante que Crain destacou em seu artigo é que "não é a negligência da leitura que precisa ser explicada, mas o fato de que lemos".

Ele nos direciona a Maryanne Wolf, que escreveu o artigo intitulado ‘Proust and the Squid’ (Harper Collins, 2008), que explora a história e a abordagem neurobiológica da leitura.

Como curiosidade, a "lula"(squid) no título se refere ao fato de que algumas lulas têm um córtex visual maior do que os mamíferos e, portanto, são mais fáceis de estudar!

No momento em que escrevo, não tendo lido o livro, não tenho certeza de por que ela escolheu Proust, mas muito provavelmente devido ao seu elogio arrebatador à solidão da leitura e à paixão para obter sabedoria de um livro/escritor, que então nos obriga a pesquisar mais:

"O fim da sabedoria de um livro nos parece apenas o começo da nossa, de modo que, no momento em que o livro nos diz tudo o que pode, dá-nos a sensação de que não nos disse nada."


Para entender por que e como lemos, precisamos olhar para as ciências.

A neurociência nos oferece uma abordagem infinitamente fascinante da jornada do homo sapiens, de rabiscos esculpidos em rochas aparentemente aleatórios até o reconhecimento de padrões e sua ligação vital com a geometria (mas isso é para outro artigo).

Em suma, a plasticidade do cérebro nos permitiu evoluir nosso uso do símbolo escrito (ou esculpido) para a arte de ler e nos comunicar com eles.

Crain faz referência aos sumérios e aos antigos egípcios pela complexa evolução não apenas de seus símbolos escritos, mas também das interpretações que se seguiram.

A antiga língua egípcia era complicada; uma forma de afro-asiático que incluía o uso de um sistema de dois gêneros, consoantes enfáticas, três vogais e uma morfologia em evolução - as palavras (ou hieróglifos) são flexionadas, isto é, 'uma mudança na forma de (uma palavra) para expressar uma função ou atributo gramatical específico, normalmente tenso, humor, pessoa, número e gênero '(https://languages.oup.com/google-dictionary-en/).

Portanto, escrever - e ler - costumava ser apenas para os escribas, padres e artesãos de elite.

Os gregos, por outro lado, acertaram em cheio o processo da linguagem. Crain resume perfeitamente quando descreve como 'no grego antigo, se você soubesse como pronunciar uma palavra, saberia como soletrá-la e seria capaz de pronunciar quase qualquer palavra que tenha visto, mesmo que nunca tenha ouvido antes. As crianças aprendiam a ler e escrever grego em cerca de três anos, um pouco mais rápido do que as crianças modernas aprendem inglês, cujo alfabeto é mais ambíguo.

Então, os gregos essencialmente inventaram a democracia da alfabetização - qualquer um poderia fazer isso! Mas, é claro, muitos outros ao redor do mundo não fizeram e não puderam.

Mais de uma década depois, Crain voltou ao assunto do declínio da leitura (e aprender com isso) em 'Por que não lemos, revisitado' (New Yorker, 2018), ele aborda a questão das 'distrações' e como estamos lendo 'de forma diferente '. As distrações da leitura são principalmente atividades e uso do tempo, como TV, jogos de computador e uso da Internet.

Nicholas Carr, autor do best-seller do New York Times, fez a seguinte pergunta: "O Google está nos tornando estúpidos?"

Ao fazer essa pergunta, ele abriu uma caixa de Pandora de ansiedades em torno dessa outra caixa de Pandora - a Internet.

O livro de Carr 'The Shallows - O que a Internet está fazendo com nossos cérebros' (WW Norton & Company, ed. Rev. 2020), leva o dilema adiante, cobrindo muitos dos assuntos mencionados acima com relação à neurociência e a evolução de como usamos nossos cérebros, mas mais importante, como estamos efetivamente reconectando nossos cérebros por meio de nossa resposta às nossas experiências de 'leitura' online. Carr afirma (p. 116) que:


O ambiente da Internet promove a leitura superficial, o pensamento apressado e distraído e o aprendizado superficial. A tecnologia oferece estímulos sensoriais e cognitivos repetitivos, intensivos, interativos e viciantes que formam novas redes neurais em nossos cérebros, redes que buscam o próximo bit de informação rápido.

Ele discute como a palavra impressa - um livro físico, jornal etc. - concentra nossos cérebros para estarmos profunda e criativamente atentos.

Por outro lado, a internet encoraja uma rápida amostragem de fragmentos de informação e entretenimento - 'sua [a internet] abordagem é a do industrial, uma ética de velocidade e eficiência, de produção e consumo otimizados - e agora a Net está nos refazendo à sua própria imagem. '

Portanto, ao nos tornarmos adeptos da leitura dinâmica, deslizando e pulando entre as páginas da web, estamos perdendo a capacidade de ser absorvidos em formas mais profundas de concentração, deliberação e reflexão sobre as informações que consumimos.

A mídia social é o clássico vampiro do tempo e da energia, sugando horas de nossas vidas - de acordo com uma enquete ao ler o serviço de assinatura Scribd:

32 por cento dos entrevistados disseram que se sentiram mais inteligentes depois de ler, enquanto apenas 7 por cento se sentiram mais inteligentes depois de "ler" as mídias sociais.

5 por cento das pessoas disseram que ler era uma perda de tempo, enquanto uns colossais 35 por cento das pessoas consideravam gastar tempo nas redes sociais uma perda de tempo.


Se você persistiu em ler até aqui, pode estar se perguntando onde estou indo com isso, e por que estou visando os maçons?


Como escritor e viciado em livros ao longo da vida, sou quase evangélico quando se trata de ler e escrever. A razão pela qual escrevo é a razão pela qual leio - e vice-versa - a partilha de conhecimento.

Sou infinitamente curioso, uma esponja de informação e sim, tenho uma relação de amor / ódio apaixonado com a internet, mas concordo em grande parte com Nicholas Carr que o Google está realmente nos tornando estúpidos. Nossa capacidade de pensamento crítico, empatia e reflexão está sendo corroída pela necessidade de frases de efeito de correção rápida.

Nossos períodos de atenção estão diminuindo e nossa capacidade de julgar ou contextualizar informações para verdades está se tornando menos confiável. Posteriormente, precisamos ler mais, mas precisamos ler as coisas certas para sermos capazes de progredir e evoluir para seres humanos melhores; mais crucialmente, precisamos reaprender a ler, não apenas o que ler.

Existem resmas de estatísticas e artigos sobre como a leitura pode nos tornar mais felizes, mentalmente saudáveis ​​e mais bem-sucedidos em nossas atividades ou carreiras escolhidas e na vida cotidiana.

A Universidade de Liverpool tem um departamento dedicado ao estudo do efeito da literatura na vida das pessoas - o Centro de Pesquisa em Leitura, Literatura e Sociedade (CRILS), eles trabalham em parceria com o Leitor - uma instituição de caridade nacional que quer realizar um Reading Revolution, para que todos possam experimentar e desfrutar de uma boa literatura, que acreditamos ser uma ferramenta para ajudar os humanos a sobreviver e viver bem '.

Agora chegamos ao ponto de por que os maçons precisam ler mais.

Somos encorajados a fazer um avanço diário no conhecimento maçônico - reconhecidamente isso se aplica a mais do que apenas leitura, mas se olharmos como somos encorajados a estudar as Sete Artes e Ciências Liberais, então a Gramática - a arte da leitura e a compreensão de o que absorvemos ou estudamos para sermos capazes de comunicar isso em nossas conversas ou escritos - é uma parte imperativa de nosso avanço diário, seja a literatura maçônica ou qualquer coisa que pegue nossa fantasia, fato ou ficção, mas que estimule ou absorva nossas mentes.

Use o simbolismo da régua de 24 polegadas para ter tempo para ler e aprender; para refletir e contemplar.

E, eu posso ser desesperadamente antiquado aqui, mas nada melhor do que lidar com livro impresso real - um livro na hora de dormir, ou  em um fim de semana preguiçoso, cercado por pilhas de jornais de domingo - você ficará surpreso em como sua mente vai para um "estado de fluxo".

No mínimo, o livro certamente superará o onipresente brilho azul de um computador, livrando-o do ‘cérebro acelerado’ das 4 da manhã ou um caso grave de ‘torcicolo’.

Autor: Philippa Lee


N do T: Mais uma vez devo deixar minha posição neste assunto polêmico. Em resumo, não é que os maçons não leiam, na verdade eles leem mais que a média. O problema é que a média (mesmo entre maçons) está baixando muito. A velocidade da informação na internet está vindo ao custo da qualidade e isto é preocupante. 

Outro enfoque é que muitos se acomodam na "plenitude maçonica" e acham que acabou e reduzem demais seu ritmo, quando na verdade o caminho é eterno.

Então o correto seria "Os maçons não leem tanto quanto deveriam."

O destino dos homens é este:

Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.

O destino dos livros é este:

Muitos são mencionados, mas poucos são lidos.

Livros interessantes para quem quiser se aprofundar:

A Arte de Ler - Emilie Faguet

Com o ler Livros - Mortimer Adler e Charles Doren

Didascalicon - Sobre a Arte de Ler - Hugo de São Vitor


Tradução: Paulo Maurício M. Magalhães


A Maçonaria é esotérica?

 A Maçonaria é esotérica?


Traduzido da  The Square Magazine 


Em quase duas décadas de interesse e pesquisa sobre a Maçonaria e sua história, tenho sido regularmente questionado - e de fato me perguntado - é a Maçonaria esotérica?

No blog Freemasons for Dummies de Chris Hodapp, encontrei uma postagem intitulada ‘Esotericism is a Matter of Degrees’ (esoterismo é uma questão de graus), do eminente maçom e estudioso Arthur de Hoyos, que aborda a questão: ‘A Maçonaria é esotérica ou não? Sua resposta curta é: ‘Sim, não, talvez’.

Isso resume muito bem o sentimento de muitos que caíram nesta "toca de coelho" em particular.

E, assim como Alice que caiu em uma toca de coelho não muito diferente, muitas vezes encontramos coisas ilógicas, incompreensíveis ou simplesmente absurdas. Mas, também há muito que pode ser atribuído a tradições ou práticas esotéricas genuínas. Digo atribuído porque não se origina na Maçonaria em si. É aqui que fica ainda mais complicado, porque há alguns que insistem que a Maçonaria se originou há milhares de anos, o que evidentemente não é verdade.

É aí que entra o termo "atribuído". Se quisermos, podemos encontrar ideias, símbolos e mitologia que correspondem àqueles que podemos atribuir a uma miríade de sistemas esotéricos, cultos iniciáticos, tradições de mistério e textos de sabedoria, como os encontrados na Cabala, Egito Antigo, Alquimia, Hermeticismo, Rosacrucianismo e assim por diante.


Quando comecei a pesquisar meu primeiro livro "O Mago Maçônico: A Vida e a Morte do Conde Cagliostro e Seu Rito Egípcio" (em coautoria com Robert LD Cooper), estava convencido de que havíamos encontrado o Santo Graal da Maçonaria esotérica no 'Rito Egípcio' do Conde Cagliostro.

Eu caí sob o encanto romântico de sua história trágica e a atração de seus supostos conhecimentos e habilidades mágicas. Eu não queria ver os lados mais sombrios dele que tantas pessoas haviam destacado historicamente - o charlatão, o vigarista, o cafetão.

Mas, com o passar dos anos, à medida que me tornei um pesquisador muito melhor e, mais importante ainda, um pesquisador muito menos tendencioso, percebi que havia me apaixonado por seus encantos de manipulação da mesma forma que outras pessoas durante sua vida. Não há nada de novo nos chamados 'Gurus' ou 'Mestres' usando a manipulação e a vulnerabilidade de seus seguidores para extorquir dinheiro e adoração por meio da promessa de sabedoria secreta.

Mas, uma vez que descobrimos nossas vulnerabilidades e as possuímos, não estamos mais à mercê dessas pessoas e de suas promessas. Eu ainda acho Cagliostro um personagem infinitamente fascinante e continuo a pesquisar e escrever sobre ele, e sobre o assunto esotérico e oculto, mas faço isso com uma ótica  muito mais equilibrada, sem emoção e voltado para o meio acadêmico.

Tudo isso não quer dizer que não haja sabedoria esotérica ou ensinamentos no Rito Egípcio de Cagliostro - há - mas não tem conexão com nada do antigo Egito e, na melhor das hipóteses, é apenas outro ritual adicional, repleto de simbologia bíblica e alquímica, e baseado na estrutura ritual maçônica.

Isso não dilui sua importância histórica ou ensinamentos esotéricos, mas demonstra perfeitamente que algumas versões da Maçonaria (ainda que menos importantes) podem ser esotéricas, mas apenas se decidirmos que é e/ou criarmos algo para apoiar essa narrativa.

Art de Hoyas nos fala da ‘cebola maçônica’, as camadas de simbolismo esotérico, tradições e linguagem detectadas, ou buscadas, em muitos aspectos dos rituais da Maçonaria:

... quando alguém se descreve como um "Maçom esotérico", muitas vezes significa alguém que vê e abraça o que parece ser aspectos da "Tradição Esotérica Ocidental" em nossos rituais; ou seja, alguma afinidade com o simbolismo do Hermeticismo, Gnosticismo, Neoplatonismo, Cabala, etc.

A Maçonaria é uma organização eclética e, em vários momentos, emprestamos a linguagem e os símbolos dessas e de outras tradições. A questão é: nossos rituais realmente ensinam essas coisas como "realidades" ou as usamos para estimular o pensamento - ou ambos?

Somos repetidamente instruídos a não confundir um símbolo com a coisa simbolizada. Em alguns casos, acredito que foi isso que aconteceu, enquanto em outros, acredito que realmente temos vestígios de outras tradições. Mas, mesmo quando estão lá, podem ter apenas uma camada de espessura em nossa cebola maçônica.

Os humanos amam os padrões e têm o desejo de descobrir "segredos", por isso tendemos a procurar coisas que ressoem ou confirmem nossas crenças ou narrativas profundamente arraigadas - conhecido em psicologia como "viés de confirmação":

O viés de confirmação é a tendência de pesquisar, interpretar, favorecer e recordar informações de uma forma que confirme ou apoie as crenças ou valores anteriores.

As pessoas exibem esse preconceito quando selecionam informações que apoiam seus pontos de vista, ignorando informações contrárias, ou quando interpretam evidências ambíguas como suporte à sua posição existente.

O efeito é mais forte para os resultados desejados, para questões emocionalmente carregadas e para crenças profundamente arraigadas. O viés de confirmação não pode ser eliminado inteiramente, mas pode ser gerenciado, por exemplo, pela educação e treinamento em habilidades de pensamento crítico.

Não há nada de errado em procurar símbolos esotéricos ou ensinamentos na Maçonaria, ou se você acredita que os encontra, seguir esses ensinamentos - o que está errado é insistir ou afirmar que esses ensinamentos são o que a Maçonaria realmente trata, ou que estes são a sua verdadeira origem.

Existem aqueles que negam qualquer evidência do esotérico na Maçonaria e aqueles que afirmam que a Maçonaria é esotérica e nada mais. Ambos os lados provavelmente precisam ler um pouco mais e confirmar ou negar um pouco menos.

É reconfortante saber que existe algo para todos na Maçonaria, se você quiser ou precisar - semelhante à cantiga nupcial lendária, a Maçonaria definitivamente inclui: "Algo Velho, Algo Novo, Algo Emprestado, Algo Azul."

Art de Hoyas conclui sua peça com este conselho valioso:

Meu objetivo é parar de discutir sobre essas coisas e encontrar o terreno comum onde "podemos trabalhar melhor e concordar melhor". Se o esoterismo lhe interessa, tudo bem; se não, tudo bem. Minha biblioteca pessoal está bem abastecida com material suficiente de ambos os lados para fazer qualquer pessoa pensar a favor ou contra qualquer posição. O importante é ser bem educado e entender primeiro o que sabemos.

Antes de alcançar as estrelas, certifique-se de que seus pés estejam firmemente plantados no chão. Torne-se alguém que pode ser levado a sério. Aprenda os fatos sobre nossas origens com base no que sabemos. Às vezes falo em “registros históricos” versus “documentos histéricos”. Antes de entrar em fantasias como “a Maçonaria descendeu dos antigos egípcios”, obtenha uma educação rápida.


N do T:  O fato que a Maçonaria nasceu como uma sociedade de pedreiros que apresentavam autos aos santos católicos nas feiras medievais, não retira o valor dos ensinamentos esotéricos acrescentados pelos aceitos ao longo de sua evolução. A vivència esotérica verdadeira se dá com estudo no coração do realmente iniciado.

Assim entendo que a maçonaria é esotérica, se o irmão estiver disposto a, de fato, estudar e, principalmente, viver seu esoterismo!


Art de Hoyas


Arturo de Hoyos é Grande Arquivista e Grande Historiador do Supremo Conselho, 33 °, S.J., e um oficial executivo da sede do Rito Escocês, a “Casa do Templo”, em Washington, D.C.

Autor, editor e tradutor de mais de 25 livros e muitos artigos, ele é considerado o principal estudioso da América na história, rituais e simbolismo da Maçonaria do Rito Escocês e na maioria das outras ordens, ritos e sistemas maçônicos.

Ele viajou e deu muitas palestras sobre a Maçonaria e apareceu em vários programas de televisão e rádio, incluindo "Secrets of the Lost Symbol" da NBC Dateline, "The Situation Room" da CNN, ABC Nightly News, Washington DC's FOX 5 News, WAMU Rádio “Metro Connection”, The History Channel, The Voice of America e muito mais.


ARTIGO DE: Philippa Lee

Philippa Lee (escreve como Philippa Faulks) é autora de oito livros, editora e pesquisadora.

Sua especialidade é o Egito antigo, a Maçonaria, religiões comparadas e história social. Ela tem vários livros em andamento sobre o assunto do Egito antigo e moderno.


Tradução: Paulo Maurício M. Magalhães

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