O Nome Inefável de Deus

 O Nome Inefável de Deus


Falaremos hoje sobre o mistério ao redor do nome inefável de Deus. Começamos por analisar o que quer dizer inefável; de maneira simples inefável é aquilo que não pode ser dito, que não é possível de ser dito;

apenas experienciado. Desta forma começamos a perceber que se trata de mais do que uma simples proibição da pronúncia deste nome sagrado por respeito. O não pronunciar o nome reflete, também, a nossa incapacidade de abarcar na totalidade o conceito de Deus; a nossa incapacidade, como gota, de expressar a totalidade do oceano.


Os Hebreus sempre tiveram como sagrado o nome verdadeiro de Deus e, por isso costumavam substituí-lo por uma série de títulos e nomes alternativos entre os quais destacamos:


Adonai: Senhor;

Ehyeh-AsherEhyeh: Eu Sou o que sou;

El Shaddai: O Todo Poderoso;

Elohim: A Autoridade;

Elyon: Altíssimo;

Eloah: O Proeminente;

El Roi: O Deus que vê e

El Olam: Deus eterno,


Neste contexto queremos destacar duas passagens: a saber:


Êxodo, Cap. 3 – Vers. de 1 a 20:


14 Disse Deus a Moisés: “Eu Sou o que Sou (Ehyeh-AsherEhyeh). É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês


Êxodo, Cap. 6 – Vers. 1 – 8, onde o nome é revelado:


3 Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como o Deus todo-poderos (El Shaddai), mas pelo meu nome, YIHOWAH (JEHOVÁ), não me revelei a eles.


O Nome verdadeiro de Deus era um tetragrama, ou seja, uma expressão de quatro letras ou sinais gráficos destinada a representar uma palavra, acrônimo, abreviatura ou sigla. Este tetragrama era: יהוה, composto, portanto, pelas letras hebraicas Yod He Vav He. Em português esse tetragrama poderia ser traduzido como: YHWH.


O hebraico é uma língua onde só se grafa as consoantes, para fazer a leitura é necessário ter aprendido a pronúncia correta daquela palavra, encaixando o som de vogais entre as consoantes. Poderia ser mais de 100 combinações: Com isso, todos os hebreus sabiam escrever YHWH, mas só os escolhidos sabiam pronunciar esta palavra, que por consequência, tornou-se inefável, por sua complexidade, beleza e ocultamento.

O Sumo Sacerdote era o responsável por guardar a pronúncia do verdadeiro nome do GADU e pronunciá-lo apenas quando em cerimônia específica no Templo de Jerusalém. O nome teria sido informado inicialmente a Moisés por Deus através da Sarça Ardente. Dessa forma, o nome servia como uma espécie de senha, um segredo que era transmitido pelo Sumo Sacerdote a seu sucessor e aos Reis coroados por ele, sempre de forma ritualística, dentro do Templo.

Com o tempo, seja pela morte daqueles que a sabiam ou pela destruição do Templo, único lugar onde o nome poderia ser pronunciado, a palavra se perdeu. Uma versão que surgiu com o tempo foi a utilização das vogais de Ehyeh-AsherEhyeh (Eu sou o que sou) com o Tetragramaton, o que gerou a versão Jihaveh (Javé, em português).


Outra versão convencionou adotar os sons de Adonai, título mais comum para denominar Deus, em combinação com o Tetragramaton, o que gera o nome Jihovah (Jeová, em português), que se consolidou como a “versão correta” do nome do GADU, apesar de não existir quaisquer outros indícios para tanto. Por esse motivo, o nome continua sendo “inefável” para os judeus ortodoxos e muitas outras vertentes religiosas e esotéricas. Observe-se aqui o paralelo com a palavra de M.´. M.´. que também se encontra perdida.

Mas ele é inefável na verdade por uma razão simbólica, pois é pessoal e ao mesmo tempo universal. O velar a palavra é uma alegoria para velar sua essência como na parábola dos cegos e do elefante. Para nos lembrar que qualquer concepção humana de Deus é ao mesmo tempo verdadeira e incompleta.


Mas passemos a analisar mais amiúde o conceito do título mais consagrado; Ehyeh-AsherEhyeh. Essa expressão é usualmente traduzida como “Eu Sou o que Sou”, ou “Serei o que Serei.”. Ou ainda “Eu Sou Aquele que É” (Ego eimi ho ôn). Assim, em todas essas traduções, o Nome Sagrado é sempre traduzido por um verbo que denota o sentido de existência, de presença, de verdadeira vivência ontológica.


O Rabino Isaac Leeser, por exemplo, em sua tradução “Dos Vinte e Quatro Livros das Escrituras Sagradas” verte a locução divina como “Serei o que eu for”, denotando, segundo ele, a intenção de Deus
em demonstrar a sua onipotência; mostrar que Ele, como deidade, não tinha uma forma nem era um Ser com características e funções definidas, como os demais deuses da religiões antigas. Ele poderia ser qualquer coisa que fosse ou quisesse ser.


Se olharmos este conceito numa perspectiva panteísta, do Deus em nós, vemos uma correlação com o conceito de livre-arbítrio; de que podemos ser o que desejarmos. Nesta alegoria em particular não se apresenta o desdobramento natural da responsabilidade por estas escolhas; afinal estamos falando do GADU e em sua onisciência suas escolhas são sempre corretas. Todavia, fica esta meditação para nós mortais.


Outra interessante derivação dessa tradição é a crença de que as letras do nome de Deus representavam combinações que podiam ser usadas para interpretar os segredos que a Bíblia não revelava em sua forma escrita. É que no alfabeto hebraico, cada letra tem um determinado valor. Assim, combinando-se as letras com seus respectivos valores, era possível obter a interpretação oculta dos títulos, nomes, palavras e expressões usadas na Bíblia e encontrar seus verdadeiros significados. Assim, surgiu a técnica, conhecida como Gematria, mãe inspiradora da numerologia.



A mística do Verdadeiro Nome de Deus, o Nome Inefável, é explorada na Maçonaria pelos graus do “Arco Real”, praticados no Rito de York americano (1797) e no Craft Inglês (1813). Ele também existe no Rito de Heredom (origem do REAA e do Adonhiramita). Entretanto, sua origem mais provável é exatamente na Irlanda e Escócia, de lá se espalhando nas vertentes já mencionadas.


Concluindo, o estudo nos aponta para os mistérios maiores. Por traz do nome oculto de Deus estão todas as grandes perguntas de respostas inefáveis. Por trás desta alegoria reside a grande resposta a tudo isso. Uma resposta que é por si só impossível de transcrever; que está além do racional. A compreensão destes mistérios é algo no campo do afetivo, do intuitivo; pois é aí que reside a centelha divina que jaz em cada ser humano. Somente o GADU pode perceber a si mesmo.


O ser humano enquanto limitado à sua mente, apenas a seu veículo racional é um receptáculo muito pequeno para conter “ELE”. Todavia, nossa centelha divina é uma parte do todo; é uma parte do oceano e por intermédio dela SOMOS o oceano. A alegoria do nome inefável de Deus nos revela o caminho da consciência cósmica; o caminho da resposta máxima a todas as perguntas. Porém ela depende do abandono do racional; do abandono do nosso lado egóico e este é o difícil caminho que tentamos e que devemos trilhar.


Bons Estudos

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