Relacionamentos

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Geralmente, quando se vê análises sobre relacionamentos, sempre se prioriza uma visão feminina. Não saberia dizer a causa disso. Será que a maioria dos estudiosos do assunto são mulheres, ou será que as mulheres expressam melhor seus sentimentos e por isso seu ponto de vista é mais conhecido. Não saberia afirmar. Adicionalmente, tenho que deixar claro que não sou formado na área e muito menos posso ser chamado de estudioso do assunto; sou apenas um homem que pensa muito e resolveu escrever a sua opinião. Sinta-se livre para discordar totalmente.

Segundo minha percepção, as relações são analisadas prioritariamente do ponto de vista da mulher: como ela se sente, como ela se porta e o que ela deseja. Naturalmente, isso é importante, afinal uma relação é feita de (pelo menos) duas pessoas e ambas são capitais para que as coisas funcionem. A questão que quero deixar é: como o homem fica nesta estória?

As mulheres atuais são as filhas e netas daquelas que fizeram a chamada “Revolução sexual”, aquelas que libertaram as mulheres daquele papel fossilizado de ser apenas a mulher do lar. Hoje elas acabam vivendo um problema quase que inverso, terem que escolher a qual das frentes (lar ou trabalho) vão se dedicar (e sofrerem críticas seja qual for a escolha) ou tentam ser as duas e fazem as duas coisas ao mesmo tempo. Naturalmente isso aumenta o conflito interno, o desgaste, o stress e bagunça todo o cenário.

Mas com qual homem estas mulheres estão se relacionando? Bem, aqui entra a observação totalmente empírica deste homem em particular. A verdade é que as mães da geração anterior não souberam ensinar seus filhos homens como deveriam ser os maridos da próxima geração e nem visualizar seu papel social neste novo arranjo. Antes de mais nada tenho que deixar claro que não demando isso daquelas mães dos anos 60, como se elas fossem as únicas responsáveis por educar uma geração, mas porque aqueles homens não tinham ideia do que estava acontecendo. Ou ensinavam seus filhos homens do mesmo jeito que tinha aprendido (gerando aos “machões” que ainda vemos por aí) ou deixavam com as mães que naturalmente teriam dificuldade de entender e adaptar o papel masculino.

O fato é que estes meninos cresceram vendo a mãe e as irmãs desempenhando um novo papel na sociedade, mas não tinham um modelo de como ele se encaixaria nisso. Ser o provedor, o esteio e a “autoridade” no lar não eram mais a referência para ele. Então qual é a referência? Bem, é isso que esta geração está tateando e tentando encontrar. Vemos pessoas tentando todo o tipo de solução, e as vezes, errando tragicamente.

Para somar a este caldeirão, devemos considerar o conflito do feminino que citamos anteriormente. A mulher moderna está livre para escolher seu papel, mas muitas vezes hesita, pois há pressões em ambos os sentidos. Agora coloquemos na equação um homem que está sem modelos e não sabe nem mesmo a natureza do(s) papeis que são esperados dele neste novo arranjo. A chance de um “match” fica bastante pequena com tantas variáveis.

Na verdade, essas novas mulheres também precisam refletir e ressignificar o homem que elas realmente procuram e e com o qual dariam conta de se relacionar. Muitas vezes mulheres que saíram para o mercado de trabalho e suas profissões ainda não entenderam que não dão conta de se relacionar com homens do antigo perfil “alfa”, mas elas ainda procuram esse homens. Estas mesmas mulheres reclamam de falta de sensibilidade masculina, mas acabam menosprezando os homens que falam o que sentem, que são sensíveis, gostam de dialogar, choram... etc...

Assim, aquela mulher que escolheu se dedicar à sua profissão e que acabou casando-se com um homem que optou por ficar dando suporte. Só que quando ela chega do trabalho e demanda o apoio e proteção do marido “esteio” (como ela via no pai quando criança) o companheiro dela não sabe o que fazer. Quanto mais ela assume o papel mais ativo da família, se torna o “esteio”, mais se frustra quando ele não tem “pegada” na “hora H”. Essas mulheres, não precisam mais de alguém que pague suas contas, mas que valide ou desvalide como ela está empregando esse dinheiro, esse tempo. Estabelecer esse ranking de prioridades era uma coisa comum (apesar de nem sempre bem feita) para o masculino e elas se perdem entre as prioridades das necessidades pessoais, profissionais, pessoais, conjugais.

Também pode haver aquela que escolheu (livremente, fique claro) cumprir um papel de mãe e núcleo da casa, mas não é (nem deve ser) submissa como sua mãe foi e se frustra, pois acabou atraindo um companheiro muitas vezes “machão à moda antiga” que não a entende e nem a valoriza.

Naturalmente, é impossível dar exemplo de todas as combinações e situações possíveis aqui. Apenas desejava ilustrar que estes homens não têm noção do que se espera deles e, para ajudar, não foram ensinados a considerar seus sentimentos, seu papel e buscar compreender a si mesmo para se posicionar melhor.

No fundo estas novas mulheres precisam de um esteio onde elas possam aprender novamente e se permitir ser o sexo frágil. Hoje a nossa cultura só aplaude as mulheres maravilhas, guerreiras, heroínas, gostosas e ainda no salto alto. E os homens destas mulheres precisam entender que a força dele não tem que estar em ser o machão que dá suporte material à família, mas pode ser aquele que dá suporte emocional e validação à companheira que escolheu. Só que para isso ele tem que encontrar a segurança de que ele pode ser aquilo que ele é.

Na verdade, essa é a ideia chave que quero defender: o homem moderno tem que aprender a entender como ele (individualmente) se sente, qual o papel ele prefere desempenhar e aí ele poderá encontrar a companheira certa. Da mesma forma que lugar de mulher é onde ela quiser, também o homem pode ser como ele desejar (respeitando o outro, é claro) só que para terem um relacionamento satisfatório as pessoas terão que procurar parceiros alinhados (ou seria complementares) com a sua visão.

A nossa cultura e sociedade infere nas mulheres uma divisão entre a oral (a antiga) e a rígida (novo papel social). As mães e avós que queriam "se libertar" foram enganadas... saíram de casa, foram pegar trânsito, trabalhar fora 8 horas por dia, voltar pra casa e continuar uma segunda jornada de afazeres domésticos e educação de filhos, e continuar nesse ritmo exaustivo por 35 anos para poder, após tudo isso, realizar o sonho de FICAR EM CASA!

Já os Homens tendem a buscar ser rígidos ou masoquistas e não acharam o caminho da oralidade. É por isso os homens que são "orais" vem ganhando um certo destaque muitas vezes nas relações. A questão é que a maioria ainda não se sente seguro neste papel.

Não tenho a expectativa de apresentar qualquer solução aqui. Como já disse, não sou da área, mas acredito que nós, homens, temos que nos repensar mais e nos livrar do peso de “saber de tudo” herdado dos nossos pais. Enquanto fizermos de conta que sabemos de tudo não acharemos a verdadeira solução e estaremos nos condenando a saltar entre relações infelizes (para elas ou para nós). Quando assumirmos a nossas dúvidas poderemos responder a elas e aí seguir em frente com a verdadeira certeza de nosso lugar no mundo e naquela relação. Temos que falar, especialmente com nossas companheiras, senão tudo virará um jogo de adivinhação. Como diz o Tao, tudo nasce do seu inverso, não de seu semelhante. Quando assumirmos a “fragilidade de não sabermos nosso novo papel, encontraremos a verdadeira força de saber qual é este papel.

 






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